Nascido na Europa, o Romantismo foi o reflexo de um momento importante na história da humanidade: a consolidação da burguesia como classe dominante, com a conseqüente criação do público consumidor de cultura. Os fatores históricos que determinaram o surgimento desse estilo na Europa não existiam no Brasil. Mesmo assim, dada a natureza do povo brasileiro, o Romantismo encontrou solo fértil no Brasil. Dois fatores significativos garantiram o êxito desse movimento entre nós:
a) a própria natureza do Romantismo, que, ao valorizar as particularidades regionais, facilitava o desenvolvimento de uma estética acentuadamente nacional;
b) o fato de o Romantismo coincidir com um período muito importante da história do país que acabava de conquistar sua independência política (1822) e buscava afirmar sua originalidade de pátria jovem diante da Europa e, sobretudo, diante do seu descobridor, Portugal.
Também, a tendência romântica pelo exotismo e pela volta ao passado foi uma condicionante favorável à produção original em nossas letras. O nosso exótico e o nosso passado, no caso, eram os índios. Daí surgiu o momento indianista no Romantismo brasileiro, tendo por base a figura do “bom selvagem”. Uma sucessão de fatos históricos igualmente determinou a formação de uma mentalidade menos colonial e mais nacional no Brasil. Entre eles, podemos destacar:
a) a vinda da família real para o Brasil (1808), com a abertura dos portos, criação de bibliotecas e escolas superiores, bem como o desenvolvimento da imprensa nacional;
b) Independência do Brasil e sua consolidação;
c) fundação das faculdades de Direito de São Paulo e do Recife (1827);
d) lutas abolicionistas (1831-1840);
e) Guerra do Paraguai (1864-1870).
Naturalmente, tais fatos provocaram na jovem nação uma ânsia de autoafirmação bastante generalizada. Os filhos de famílias mais abastadas, enriquecidas durante o ciclo da mineração, já podiam ir à Europa e estudar na França, Inglaterra e em Portugal. Lá tomavam contato com as correntes mais avançadas das ciências e das artes.
O Romantismo redefiniu valores no plano histórico-social e lançou-nos na luta pelo rompimento dos laços que ainda mantínhamos com os portugueses. Ganhou corpo, entre outras tendências, a de reinterpretar nossa história para conquistar nosso futuro.
CASIMIRO DE ABREU
Um poeta importante do movimento foi Casimiro de Abreu, que faria aniversário hoje. Filho de pai português e mãe brasileira, iniciou os seus estudos em Friburgo. Em 1853, seguiu para Lisboa, onde viveu um longo “exílio” de quatro anos. Sua carreira literária iniciou-se oficialmente em 1856, quando encenou no teatro D. Fernando (em Lisboa) a peça Camões e o Jaú. Retornou ao Brasil, publicou seu único livro de poesias, Primaveras e morreu tuberculoso aos 21 anos. Dois temas marcam a sua obra: o saudosismo e o lirismo amoroso. Saudosismo: a saudade, em Casimiro de Abreu, não é apenas da pátria: a família, o lar, a infância perdida são realidades pessoais de cujas ausências o poeta se lamenta:
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais! (…)
Lirismo amoroso
Lirismo Amoroso: em sua poesia lírico-amorosa encontramos a imagem feminina meiga e idealizada e a oscilação entre a sentimentalidade e os impulsos eróticos, o que o conduz a uma malícia mascarada, fruto do temor de transgredir os limites da moralidade do seu tempo e da necessidade de descrever sentimentos e situações adolescentes, mais imaginativas que reais.
Segredos
A flor dos meus sonhos é moça bonita
Qual flor entreaberta do dia ao raiar;
Mas onde ela mora, que casa ela habita,
Não quero, não posso, não devo contar!
Oh! Ontem no baile com ela valsando
Senti as delícias dos anjos no céu!
Na dança ligeira qual silfo voando
Caiu-lhe do rosto seu cândido véu!
Que noite e que baile!
Seu hálito virgem
Queimavam-se as faces no louco valsar,
As falas sentidas que os olhos falavam,
Não quero, não posso, não devo contar!
(…)
Agora eu vos juro… Palavra! – Não minto!
Ouvi a formosa também suspirar;
Os doces suspiros, que os ecos ouviram
Não quero, não posso, não devo contar!
Trememos de medo… A boca emudece
Mas sentem-se os pulos do meu coração
Seu seio nevado de amor se entumece
E os lábios se tocam no ardor da paixão.
(…)