A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Romanceiro da Inconfidência, da escritora Cecília Meireles.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Meireles. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro Romanceiro da Inconfidência
A coletânea de poemas de Cecília Meireles utiliza o movimento histórico da Inconfidência Mineira como panorama para os conflitos políticos e pessoais dos inconfidentes. Nesse sentido, o vestibular pode abordar as relações históricas da obra, a construção da identidade nacional em resistência à colonização portuguesa e as transformações culturais a partir da mineração mineira.
A seguir, entenda como o iluminismo, o ouro e as traições são associados à efemeridade e à eternidade das memórias na obra da poeta.
O que é um romanceiro?
Um romanceiro é uma coletânea de poemas que narram um evento ou momento histórico em comum, normalmente transmitido de forma oral antes de escrita.
A musicalidade e a forma dos poemas é destacável no romanceiro, marcado majoritariamente por estruturas rimadas e com metrificação de influência ibérica (redondilhas menores ou maiores).
Escolhas lexicais, como o uso de “Liberdade”, com inicial maiúscula, geram simbolismos relevantes ao movimento da Inconfidência.
Enredo do livro
A obra é compilada em quase uma centena de poemas ambientados no século XVIII em Vila Rica, atual Ouro Preto em Minas Gerais, trazendo retratos para personagens como Marília, Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga, Chica da Silva e Tiradentes.
Como literatura, o romanceiro retoma ao neoclassicismo árcade do contexto de Vila Rica, o “país da Arcádia”, que recebe a transformação social da sociedade em conflitos e “tormenta”.
A sociedade de poetas e pastoras, como Dirceu e Marília, são representações fortes do imaginário neoclássico, permeado pela beleza bucólica e os ideais de liberdade do iluminismo. Na obra, a narração retrata como se a “pastoral dourada” tivesse sido escurecida por uma “nuvem de lágrimas”.
Ciclo do Ouro
Os primeiros 19 romances abordam a descoberta do ouro e suas consequências para a sociedade mineradora. Os poemas descrevem os costumes da cidade e o folclore local, incluindo histórias regionais, como a de uma donzela morta pelo próprio pai e os cantos dos negros nas minas.
O Ciclo do Ouro mineiro é tema central aqui por retratar a cobiça por riquezas e a sua capacidade de corromper as pessoas, como pelo Romance XVII, “Das lamentações no Tejuco”:
“Maldito o Conde, e maldito
esse ouro que faz escravos
esse ouro que faz algemas.
Que levanta densos muros
para as grades das cadeias,
que arma nas praças as forcas,
lavra as injustas sentenças
arrasta pelos caminhos
vítimas que se esquartejam!”
O Conde de Valadares foi o responsável pela traição e prisão de João Fernandes, que foi alertado por Chica da Silva quanto à ganância ignóbil do conde no contexto do ciclo dos diamantes.
Revolta contra Portugal e Tiradentes
A revolta contra a corte portuguesa é explicitada a partir do Romance XXIV, por conta do imposto de ⅕ do ouro, com a criação da bandeira com o lema “Libertas quae sera tamen” (‘liberdade ainda que tardia’), que hoje ainda é exibido na bandeira de Minas Gerais.
Entre os romances XXVII e XLVII, destaca-se a atuação de Tiradentes, que tenta atrair mais pessoas para a conspiração. Porém, seus planos são frustrados pelos delatores, em especial Joaquim Silvério dos Reis, que é comparado diretamente com Judas, traidor de Jesus Cristo (visto como correlato a Tiradentes no mito da formação da identidade nacional) na Bíblia cristã.
Luto simbólico
O enredo segue com as prisões, confisco de bens e mortes, incluindo a de Cláudio Manuel da Costa, que teria se suicidado na prisão, e a execução de Tiradentes. Tomás Antônio Gonzaga, após um período como magistrado, também é condenado ao exílio, representando o desmonte e dissolução do movimento inconfidente.
Então, no Romance LXXXV, vemos o Testamento de Marília, marcando o luto simbólico pelos ideais de “Liberdade” que a pastoral carregava:
“Escreve Marília,
escreve seu pequeno testamento;
na verdade, por que vive,
se a morte é o seu alimento?
se para a morte caminha,
na sege do tempo lento?“
Esse luto pela esperança também é mostrado pela morte do filho de D. Maria I, a rainha louca que ordenou a execução dos inconfidentes. A maldição do ouro é aqui retomada, pois, no Romance LXXIV vemos que ela é quem sofre do “cárcere verdadeiro”: sua própria mente em loucura.
Por fim, vemos a narrativa de Maria Ifigênia e a finalização com a “Fala dos Inconfidentes Mortos”, trazendo voz ao descontentamento pela “Treva da noite”, pelos “fingimentos” e “covardias”, que punham em memória o contraste entre a eternidade dos ideias de liberdade e a efemeridade do tempo.
Como a Fuvest pode cobrar o livro?
Se a Fuvest seguir seu padrão, as questões podem girar em torno do enredo e, principalmente, reflexões interdisciplinares com a realidade histórica e contemporânea.
É muito importante ter atenção aos momentos históricos da Inconfidência Mineira, Iluminismo e colonização portuguesa, pois eles podem aparecer em perguntas que exigem o reconhecimento desses períodos na obra.
Além disso, o retrato da maldição do ouro e a ganância humana também podem ser questionados pela visão contrastada com o imaginário árcade que a obra faz referência.
Modernismo
Também vale ressaltar que aspectos presentes da segunda fase do modernismo são visíveis pela transformação da rebeldia modernista. Como exemplo, os versos metrificados e rimados em pentassílabos ou heptassílabos representam essa falta de preocupação com a inovação e rejeição ao clássico.
Por fim, também é conveniente refletir sobre a construção da identidade nacional, como a martirização de Tiradentes em comparação a Jesus Cristo; ou mesmo pelo retrato da loucura com D. Maria I, da Chica da Silva, como figura destacável em um período escravocrata; e da traição, como a atuação do Conde de Valadares, e Joaquim Silvério dos Reis, em comparação a Judas.
Sobre a autora Cecília Meireles
Nascida no Rio de Janeiro, Cecília Meireles (1901-1964) foi uma poeta, professora, jornalista e uma das mais importantes figuras da literatura brasileira.
Ela é conhecida por sua vasta produção poética e por ser uma das primeiras vozes femininas a ganhar destaque no cenário literário nacional. Em 1939, tornou-se a primeira mulher a receber o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Bem imersa na segunda fase do modernismo brasileiro, seu trabalho reflete uma profunda sensibilidade e uma busca constante por temas universais e pilares em suas obras, como a passagem do tempo, a memória, a efemeridade e a eternidade.
Sua obra é valorizada pela musicalidade e pela precisão lírica, além de uma forte influência da história do Brasil e retrato da identidade nacional.
Todas as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2025 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2025 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2025
- Marília de Dirceu (1792) – Tomás Antônio Gonzaga
- Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
- Os ratos (1944) – Dyonélio Machado
- Alguma poesia (1930) – Carlos Drummond de Andrade
- A Ilustre Casa de Ramires (1900) – Eça de Queirós
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Água funda (1946) – Ruth Guimarães
- Romanceiro da Inconfidência (1953) – Cecília Meireles
- Dois irmãos (2000) – Milton Hatoum
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Fotos do post: Beatriz Kalil Othero/Portal Enem + Reprodução/Editora Global