A História mundial é dividida em quatro grandes Idades: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. Essa segmentação baseia-as em uma convenção entre os historiadores para tornar o estudo dessa ciência mais didática e compreensível em termos gerais. A transição de uma Idade para outra não possui uma data fixa, mas sim um período estipulado, como um século inteiro.
No entanto, a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea foge a esse padrão. No dia 14 de Julho de 1789 tem-se o início da época histórica que vivemos atualmente. Porém, por que tão específico? Resposta: a simbologia da Revolução Francesa, que tem seu início na data em questão com a Tomada da Bastilha em Paris.
O objetivo desse post não é tratar dos acontecimentos específicos da Revolução Francesa, mas sim o que eles por sua vez simbolizaram para o processo histórico mundial. Até mesmo o ENEM não costuma tratar o assunto por uma abordagem conteudista, mas sim interpretativa dos progressos e rupturas provocados por esse marco tão impactante, que fugiria às fronteiras europeias.
De início, os revolucionários não questionavam as bases do Antigo Regime como um todo. A Revolução Francesa deflagra a partir de um questionamento do Terceiro Estado quanto à cobrança excessiva e injusta de impostos comparada com a Nobreza e o Clero. Uma Assembleia Geral é convocada para se solucionar a crise socioeconômica na França e os ânimos populares começam a se exaltar com a morosidade da tomada das decisões por parte do sistema político estabelecido.
Conforme vão aprofundando-se os desânimos e as insatisfações, a contestação social ganha novos braços extremistas, influenciados por figuras como Robespierre e Marat. O tão conhecido “Terror” – período marcado por inúmeras decapitações como forma de estabelecer-se uma ordem ditatorial revolucionária – marca a essência do simbolismo da ruptura causada pela Revolução Francesa.
A partir de então, os revolucionários franceses começam a construir uma luta contra as estruturas culturais do Antigo Regime. A decapitação de Luís XVI (monarca francês na época) não representaria a morte da figura pessoal do rei, mas sim o súbito simbólico do Absolutismo europeu. As perseguições aos nobres não tinham apenas caráter político, mas representavam uma luta contra a existência de um estamento hierarquizado e privilegiado.
Pela primeira vez na história, foi-se dado voz a quem nunca teve espaço para tê-la. O tumulto social causado pelos levantes clamava muitas vezes por questões diversas. A participação de artesãos, camponeses, burgueses, todos juntos, diversificavam os clamores da revolução. Pela primeira vez, efetivamente, os gritos por liberdade e igualdade jurídica permeavam o ideário popular.
Em 1791, Olympe Gouges, filha de um açougueiro, propõe na Assembleia Nacional uma Declaração da Mulher e da Cidadã para complementar a conhecida Declaração do Homem e do Cidadão. “A mulher nasce livre e tem os mesmos direitos do homem. As distinções sociais só podem ser baseadas no interesse comum.” dizia o Artigo 1º. Percebam como a expressão de tempo de mudança era vívido no clamor popular. Em pleno século XVIII, mulheres clamando por liberdade de expressão sem opressão.
Em síntese, a partir da Revolução Francesa, o modo como o passado começou a ser visto muda. Os exemplos tidos que reafirmavam a tradição não poderia iluminar mais o futuro, pois esse por sua vez é totalmente novo. O passado é algo que passou a ser tido como um obstáculo que deveria ser superado não por apenas uma revolução, mas sim A Revolução.