Se antigamente a definição do que viria a ser um bom texto contava somente com a obra em si, as palavras que utilizou (ou não!) em sua estrutura, hoje se sabe que tanto o projeto na mente de quem escreve quanto os critérios de aceitação por parte de quem lê o formato final carregam a mesma importância para que se atinja a eficácia em qualquer redação. Diante desse cenário, é fundamental que o candidato entenda de que critérios parte quem o corrige, assim como de que forma sua nota final é calculada. Assim, aumentam muito as chances de o resultado ser compatível com as expectativas de quem decide a nota final.
Composição da nota final
Dentre todas as avaliações que compõem o Enem, a redação é a única em que se pode obter a tão temida nota zero, resultado de uma ou mais falhas listadas a seguir:
Fuga total do tema; fuga da tipologia proposta; redação em branco; redação com até sete linhas; desrespeito aos direitos humanos; impropérios (ofensas, xingamentos); e trechos desconexos, ou seja, fragmentos textuais que fogem completamente ao que se discute ao longo de todo o texto.
Mudando o foco do mínimo para o que de melhor se pode obter em termos de qualificação para o texto, os 1000 pontos máximos colocam-se distribuídos em 5 competências, cabendo a cada uma delas 200 pontos. Cada redação é inicialmente corrigida por dois avaliadores, surgindo como valor final a média aritmética entre suas notas. Havendo diferença igual ou superior a 100 pontos entre as notas finais atribuídas ao texto por ambos ou a 80 pontos em uma única competência, um terceiro corretor passa a fazer parte do processo e a média aritmética que proporciona a nota final, nesse caso, passa a ser a obtida a partir das duas entre as três notas (Avaliador 1, Avaliador 2 e, nesse contexto, Avaliador 3) que mais se aproximarem.
Competências de Avaliação
Competência 1 – Demonstrar domínio da norma padrão da língua escrita. Expor conhecimento gramatical, assegurando comunicação em linguagem formal. Por se tratar de um conteúdo desenvolvido ao longo de toda uma vida escolar, existe a real chance de ocorrerem lacunas do ponto de vista teórico, o que se pode confirmar a partir de itens que, por envolverem prática textual até mesmo cotidiana, são mais suscetíveis ao desvio, o que se chamou durante muito tempo “erro gramatical”:acentuação gráfica; ortografia; crase; concordâncias nominal e verbal; regência; colocação pronominal; e pontuação.
Obs. Ortografia e Concordâncias são gramaticalmente os itens que mais comprometem a percepção do avaliador não só quanto à qualidade textual, mas também no que se refere muitas vezes à capacidade intelectual do candidato, a partir do instante em que ele demonstra desconhecimentos considerados incompatíveis ao estágio de formação escolar em que se encontra.
Competência 2 – Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento, para desenvolver o tema dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo. Dentro desse único aspecto da correção da redação do ENEM, existem três exigências simultâneas, que, em Bancas de outros vestibulares, comporiam perfeitamente itens isolados para a aferição da nota final. Duas delas, observadas isoladamente, aparecem como razões suficientes para que a redação seja zerada: tipologia textual (respeitar as características da dissertação argumentativa); e atendimento ao tema (demonstrar entendimento do tema oferecido pela Banca). Caso a fuga aos traços acima seja apenas parcial, ocorre perda de pontos, mas sem comprometer a avaliação inteira.
Obs. Trechos descritivos e narrativos podem contribuir muito para que a argumentação se solidifique mais, o que não significa que parágrafos inteiros com essas estruturas sejam bem vistos.
Competência 3 –
Selecionar: Cuidar do volume de dados com que conta o texto. O excesso de exemplos de argumentos ou mesmo o aprofundamento do estudo de causas para situações-problema atuais não colaboram em nada para que a redação se torne mais qualificada, além de ainda gerar o risco de fuga parcial da tipologia dissertativa. Mostra-se bem mais produtivo investir um pouco em cada argumento do que muito em uma única defesa de tese.
Relacionar: Os parágrafos de desenvolvimento precisam se conectar à Introdução numa estratégia de defesa do posicionamento escolhido pelo texto, antes mesmo de que pensemos em liga-los uns aos outros. Ler o primeiro parágrafo do texto mais uma vez a cada revisão de parágrafo de Desenvolvimento, mesmo que rapidamente, pode evitar que cheguem ao avaliador sustentações fracas, desvinculadas da tese.
Organizar: Mede-se o quanto os dados foram colocados em posições adequadas: introdução com tese, argumentos nos parágrafos intermediários e retomada de posicionamento no final da redação. Vale ressaltar que não há uma ordem considerada como correta para os argumentos no Desenvolvimento: começar pelo considerado mais forte ou por uma ideia não tão impactante é indiferente ao avaliador em termos práticos de pontuação.
Interpretar: Verbo mais inusitado entre os quatro presentes na Competência 3, aponta a maneira de lidar com a coletânea de textos oferecida pela Banca. Sabe-se que copiar trechos dessas obras é extremamente nocivo, inclusive se desconsiderando as linhas em que haja qualquer reprodução literal desse tipo, o que não significa, entretanto, que os dados ali encontrados não possam servir de inspiração ou referência para que, reescritos com outras palavras, solidifiquem ainda mais a estratégia de defesa da tese.
Competência 4 – Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação envolvendo ligações físicas entre as partes da redação. A Competência 4 soma-se ao que a Competência 1 já havia proposto como domínio linguístico, porém cuida em especial do que verbalmente favorece a defesa da tese na estrutura textual como um todo e foge de certa maneira de usos gramaticais mais localizados no nível da construção de um período, por exemplo. Os principais caminhos para se chegar a esse tipo de conexão (Coesões Referencial e Sequencial) são os focos de avaliação.Redações qualificadas cuidam da coerência entre seus dados, mas também fazem questão de verbalmente facilitarem a vida de um avaliador que, orientado por conectores, tem muito menos trabalho de pressupor ou mesmo adivinhar que ligação semântica existiria entre certas orações ou períodos. Além de um cuidado interno ao parágrafo, investir na ligação entre as partes do texto destaca– o em meio a uma massa de candidatos normalmente indiferentes a esse tipo de estratégia. Conjunções coordenativas, como as conclusivas no último parágrafo, advérbios oferecendo noções de continuidade entre ideias (“também”, “primeiramente” e “ainda”, por exemplo) e expressões introduzidas por pronomes (como “outro fator” e “outro aspecto”) podem fazer com que parágrafos surjam completamente encadeados, estimulando a percepção de uma unidade textual mais firme.
Competência 5 – Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Mesmo que alguns temas não exponham transtornos de forma clara, a Competência 5, sendo um critério de correção de redação, falando em “problema abordado”, confirma a existência de algo a ser resolvido. A proposta de solução, dividida em descrição do processo em si, método de execução e figuras agentes, fundamentada em valores humanísticos universais, assim como o texto como um todo, tende a funcionar mais quando há um cuidado maior em não torná-la emocional a ponto de comprometer uma descrição “fria” dessa intervenção e em percebê-la como um projeto de cunho nacional, já que um dos pressupostos do tema Enem é exatamente dizer respeito ao país inteiro, sem privilegiar segmentos sociais particulares.
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