Qual a relação entre a medicina desenvolvida pelos nazistas nos anos 1930 e 1940 e as drogas?
Para o nazismo, muitas doenças refletiam uma espécie de degeneração racial. Dentro da ótica do Partido Nazista chefiado por Adolf Hitler, os arianos* eram superiores racialmente frente aos demais. Essa propaganda, que tinha também objetivos políticos de expansão territorial e da economia alemã, era uma crença comungada pelos nazistas e contou com maciço apoio da classe médica.
De fato, muitos médicos aderiram firmemente ao regime, assim como cientistas, químicos e biólogos. Os motivos eram muitas vezes menos políticos, e mais pessoais: ascensão na carreira, dinheiro, possibilidade de realizar pesquisas científicas com pessoas que seriam “descartadas” pelo regime, e inclusive a obtenção de emprego para os jovens médicos – dado que quase 50% dos médicos e cientistas na Alemanha no início da década de 1930 eram judeus, e sem estes, um amplo espaço de atuação e oportunidade fora aberto.
Por parte do regime nazista, a atuação dos médicos e cientistas era essencial para justificar uma superioridade biológica perante as raças consideradas “inferiores”. A medicina e a nobre atuação do médico passavam um “ar positivo” às atrocidades cometidas. Ademais, o jaleco branco também dava uma “justificativa científica” para os desejos políticos do Führer.
Duas outras características explicam o porquê do regime nazista ter tido uma relação tão estreita com as ciências da saúde. Nos anos 1920 e 1930, a Alemanha tinha as melhores escolas, laboratórios e universidades para a formação de médicos, biólogos, químicos. Havia uma tradição alemã de desenvolvimento científico nessas áreas, assim como na física. Outro fator era que naquele momento histórico, não apenas a Alemanha, mas outros países como os Estados Unidos, estavam em voga políticas de melhoramento racial (eugenia), como através de esterilização de parte da população (nos Estados Unidos o faziam com os presidiários).
E como a ciência, bem como a atividade médica, foi posta a serviço dos nazistas?
Além de demonstrar a superioridade racial dos germânicos, a ciência estava a serviço da eficiência da guerra: como para drogar os soldados e aliviá-los de suas tensões frente aos efeitos dos combates. Ademais, a medicina era um instrumento para demonstrar as variações raciais, evoluções e como se podia potencializar as habilidades humanas.
Para as experiências, os prisioneiros eram utilizados como cobaias: judeus, romenos, ciganos, e outros grupos étnicos e raciais considerados “inferiores” pelos nazistas. Vários espaços dos Campos de Concentração eram transformados em verdadeiros laboratórios para pesquisas científicas, a serviço do projeto de engenharia social nazista, e que também rendia lucros à indústria farmacêutica alemã.
Nazismo e as drogas
Apesar de que até a primeira metade do século XIX uma série de drogas, tidas hoje
como ilegais e muito perigosas, fossem vendidas livremente em drogarias e farmácias, o amplo espaço de experiência e a ânsia por resultados dos nazistas ampliou ainda mais a produção de certas drogas. Uma delas bastante utilizada foi a metanfetamina – aquela famosa droga do seriado Breaking Bad. A metanfetamina foi amplamente produzida pelo laboratório farmacêutico Temmler Werke GmbH, sob o rótulo de Pervitin, desenvolvido e utilizado nos Campos de Concentração. E mais, o Pervitin era uma das drogas que circulavam abertamente entre os soldados alemães, e inclusive o próprio Hitler tomava injeções do medicamento várias vezes ao dia sob indicação de seu médico pessoal, dr. Theodor Morell.
* Segundo os nazistas ariano era a raça superior que compreendia todos os que compartilhavam as línguas indo-europeias.
Imagem do Dr. Heinz Baumkötter (1912-2001), que ainda enquanto estudante de medicina aliou-se à SS, servindo como médico em vários Campos de Concentração. Em 1943, foi apontado como doutor chefe no Campo de Concentração de Sachsenhausen, e participou de uma série de experimentos com prisioneiros.
Na sede da Gestapo em Colônia, uma exposição sobre como os cientistas do regime nazista estudavam as famílias, e buscavam justificar a degeneração das raças não-arianas por meio dessas pesquisas.