O Espelho é um dos contos que serão cobrados no vestibular Uerj deste ano. Como anunciado no início de 2017, esse vestibular virá algumas mudanças, sendo a principal delas a volta das leituras obrigatórias. Quem for encarar o processo seletivo para ingressar em uma graduação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em 2018, terá que conhecer e saber analisar muitas obras literárias, que serão distribuídas nos três exames do vestibular Uerj 2018:
– 1º Exame de Qualificação: Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa (Contos “A terceira margem do rio” e “O espelho”);
– 2º Exame de Qualificação: A hora da estrela, de Clarice Lispector;
– Exame Discursivo (Prova de Língua Portuguesa Instrumental): Dom Casmurro, de Machado de Assis;
– Exame Discursivo (Prova específica de Língua Portuguesa e Literaturas): Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, e Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago;
A gente aqui do QG resolveu dar aquela ajudinha para encara essa novidade e trouxemos uma análise e um resumo do conto “O Espelho”, do Guimarães Rosa.
O ESPELHO: análise do conto
O conto O Espelho é o centro da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa. Este (o autor) utiliza uma narrativa em primeira pessoa em contato direto com o leitor como um diálogo constante, em que este é chamado a adentrar no mundo paralelo, na viagem extraordinária a qual é chamado pelo viajante. A intenção é simplesmente narrar a experiência que questiona a lógica e o sentido de existir.
Tempo: o tom psicológico está presente no conto. Trata-se de uma narrativa que investiga a fundo a alma humana. O narrador conta a sua experiência de olhar para um espelho e, inicialmente, não se reconhecer, sentir repulsa da imagem que vê e, depois, só depois, perceber que se tratava de sua própria imagem. Depois dessa experiência, o narrador busca compreender-se. Trata-se de um constante questionamento e, ao questionar-se, o narrador propõe que o leitor também reflita e indague sobre si mesmo, visto que aos poucos vamos nos identificando com esse narrador.
“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induzira, alternadamente, séries de raciocínios e intuições” (ROSA, 1964, p. 77).
O narrador avisa que não narrará uma aventura, uma narrativa simples, linear, fácil de ser compreendida. Trata-se de um relato de uma experiência que desencadeou uma série de reflexões sobre um determinado assunto.
Espaço: por tratar-se de uma narrativa de tom psicológico, o narrador não se atém à descrição espacial. A reflexão é o mais importante nessa narrativa, logo se a preocupação com o espaço é praticamente nula.
Personagens: o narrador protagonista é o único personagem. Não há citação de nome e nem de origem. A única possível marca que indicaria (de forma nada precisa) a origem do personagem é esta: “Sou do interior, o senhor também, na nossa terra, diz-se que nunca se deve olhar em espelho às horas mortas da noite, estando-se sozinho” (ROSA, 1995, p.438).
O ESPELHO: resumo do conto
No início do conto são expostas as duvidosas faces que um espelho pode proporcionar, explicando o quão dúbio e infiel este pode ser e deixando claro o fato de que acreditar na imagem que se vê é de total ignorância de novas experiências – há espelhos que deformam, há aqueles que melhoram a imagem e aqueles que, raramente, parecem realmente mostrar o que está do outro lado.
Neste jogo de convencer o leitor de que a sua tese é correta, que os espelhos têm o poder de enganar, o autor diz que se deve duvidar dos olhos porque eles são a porta do engano. Os olhos viciam-se com os defeitos e os entendem como natural. A cada vez que se olham, os olhos acostumam-se mais com a imperfeição da imagem que veem. O eu-lírico usa o exemplo de Narciso, quando diz que Tirésias havia predito àquele que viveria apenas enquanto não visse a si mesmo.
Embora tudo pareça meio imaginativo, o eu-lírico é racional, mantém-se sempre aliado às ideias reais, “pisa o chão a pé e patas“. “Satisfazer-me com fantásticas não-explicações? — jamais. Que amedrontadora visão seria então aquela? Quem o Monstro?” Nessa frase, a visão amedrontadora seria a experiência inicial, quando estava em um banheiro público e viu uma imagem repulsiva, horrenda, em dois espelhos que faziam jogo entre si. E a reflexão era ele mesmo, uma imagem que assustava, o seu próprio protótipo de imagem.
Desde então, começou a intensa busca do “eu por trás de mim” nas imagens que se refletiam. A intenção do emissor era parar de olhar com afeto para o que via e começar a buscar um modelo subjetivo. Começou retirando marcas hereditárias, os efeitos de paixões, pressões psicológicas e gradativamente tudo o que pudesse dissimular a sua figura e esconder em máscaras o que pretendia encontrar.
Questão de Vestibular
Udesc, 2011:
Com relação a leitura do texto acima e do resumo do conto O espelho, de Guimarães Rosa, assinale a alternativa incorreta
a) a partir da posição do narrador, no texto, infere-se que a superstição pode ser um ponto de partida para estudos.
b) Em “A alma do espelho – anote-a – esplêndida metáfora.” (linha 4), se os travessões forem substituídos por vírgulas, o sentido original da oração não sofre alteração e ela ainda continua dentro do padrão formal de escrita.
c) O autor procura atribuir ao espelho características enigmáticas, valendo-se da escolha semântica de vocábulos e de expressões.
d) Do período “serviam-se deles, como da bola de cristal, vislumbrando em seu campo esboços de futuros fatos, não será porque, através dos espelhos, parece que o tempo muda de direção e de velocidade?” (linhas 8, 9 e 10) pode-se inferir uma ligação à magia, aos mistérios representados pelo espelho.
e) Na oração “O espelho inspirava receio supersticioso aos primitivos” (linhas 1 e 2), a expressão destacada, sintaticamente, classifica-se como complemento nominal.
Gabarito: e.