A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Nós Matamos o Cão Tinhoso!, do escritor Luís Bernardo Honwana.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Honwana. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro Nós Matamos o Cão Tinhoso!
“Nós Matamos o Cão Tinhoso!”, de Luís Bernardo Honwana, é um livro composto por sete contos, escrito e publicado em 1964, em Moçambique. Naquela época, o país africano ainda estava sob domínio português, e, portanto, a obra tem como pano de fundo a opressão colonial portuguesa e a luta pela independência do povo moçambicano.
A obra utiliza metáforas e elipses para escapar da censura da época, e a repetição para chamar a atenção do leitor em certas partes. Ele também utiliza termos de várias tribos diferentes, mostrando que a revolução é de todos. Cada conto reflete diferentes facetas da exploração colonial – pobreza, submissão, racismo, violência e resistência – e destaca a luta por liberdade e esperança na independência.
A seguir, você confere o resumo de cada um dos sete contos do livro:
Nós Matamos o Cão Tinhoso
O primeiro conto dá nome ao livro: Nós Matamos o Cão Tinhoso. Nele, o narrador em primeira pessoa é Ginho, uma criança sensível e observadora. Essa característica confere à narrativa uma perspectiva infantil e, por vezes, ingênua. Ginho conta que, em sua escola, havia um cachorro chamado Tinhoso – termo que significa algo repugnante, teimoso e insistente.
O cão era velho, com pelos brancos, cicatrizes, muitas feridas e grandes olhos azuis que causavam medo. Essa descrição, repetida ao longo da história, parece simbolizar o povo português – os colonizadores. Ninguém gostava do cachorro, exceto uma menina, descrita como pouco inteligente, sugerindo que apenas alguém que “não pensasse direito” poderia aceitar a colonização portuguesa.
Certo dia, alguém encarrega o veterinário de matar o cachorro. Relutante, o veterinário transfere a tarefa para Ginho e seus colegas de turma. As crianças retornam para casa em busca de armas para realizar o ato. Surge a ideia de usar medicamentos, mas decidem pelas armas, simbolizando que os jovens são os responsáveis por agir contra a colonização e que, em algumas revoluções, o uso de armas é necessário.
Os colegas escolhem Ginho para executar o tiro. Ele atira de olhos fechados, ouvindo o grito da menina que tentava proteger o cão. No final, são os outros meninos que efetivamente matam o cachorro.
Inventário de Imóveis e de Jacentes
O segundo conto, “Inventário de Imóveis e de Jacentes”, também é narrado em primeira pessoa. O personagem descreve sua casa, revelando um espaço simples e pequeno para a quantidade de pessoas que lá vivem. A imobilidade da casa reflete a estagnação da sociedade moçambicana sob o domínio colonial.
Dina
Em “Dina”, o terceiro conto, o narrador onisciente relata um episódio em uma machamba (plantação). Conhecemos Madala, um idoso adoentado que sofre enquanto trabalha, mas que teme desobedecer ao capataz português. O horário de almoço chega e Madala recebe a visita de sua filha Maria, que o convence de fazer um intervalo enquanto ela espera.
O capataz se interessa por Maria e força uma relação sexual com ela. Os homens que ali também trabalhavam ficaram revoltados com a situação e se juntaram ao redor de Madala, esperando dele uma confirmação para fazer algo a respeito do acontecido; porém, o idoso não diz e não faz nada. O capataz, ao perceber a tensão, determina o fim do horário de almoço, mas ninguém se move.
Nesse momento, o leitor tem a sensação de que os homens finalmente farão algo contra a opressão que sofrem no trabalho, porém, o capataz oferece vinho a Madala, que o aceita, e todos voltam ao trabalho com sentimento de derrota. Esse conto denuncia a submissão e o esgotamento do povo moçambicano, incapaz de reagir até mesmo contra injustiças brutais.
Velhota
A “Velhota”, o quarto conto, narra a história de um jovem espancado que busca abrigo na casa de sua mãe e irmãos. A pobreza extrema e a fome da família são destacadas, simbolizando a miséria vivida pela população moçambicana e a esperança de que futuras gerações superem essas humilhações.
Papá, Cobra e Eu
Em “Papá, Cobra e Eu”, Ginho retorna narrando um problema vivenciado pela sua família, pois uma cobra entrou no galinheiro e está matando todas as galinhas. Vemos nessa história a aproximação do menino com o pai, que lhe dá sábios conselhos.
“- Meu filho, tem de haver uma esperança! Quando um dia acaba e sabemos que amanhã será tudo igualzinho, temos de ir arranjar forças para continuar a sorrir e continuar a dizer ‘isso não tem importância’. Ainda hoje viste o Sr. Castro a enxovalhar-me! Isso foi só um bocadinho da ração de hoje… Não, meu filho, mesmo que isto tudo só O negue, Ele tem de existir!…
O Papá parou de repente e sorriu num esforço. Depois acrescentou:
– Mesmo um pobre tem de ter qualquer coisa… Mesmo que seja só uma esperança!… Mesmo que ela seja falsa!…”
Fonte: página 103
As Mãos dos Pretos
No sexto conto, “As Mãos dos Pretos”, o autor aborda o racismo. Acompanhamos um menino querendo saber por que as palmas das mãos dos pretos são brancas.
Após receber respostas absurdas, recorre à sua mãe, que oferece uma explicação simbólica: Deus fez as mãos dos pretos brancas para mostrar que todas as obras humanas, independentemente da cor, são realizadas por mãos iguais. O conto reforça que o caráter de uma pessoa é definido por suas ações, não pela cor de sua pele.
Nhinguitimo
O sétimo conto, Nhinguitimo (que significa “vento forte que vem do Sul”), narra a resistência de proprietários nativos que cultivam em terras ignoradas pelos portugueses.
Porém, quando as autoridades coloniais decidem invadir essas terras, o narrador percebe sua inércia diante da opressão e conclui que algo precisa mudar.
O final acaba mostrando que não era mais possível aceitar passivamente toda a exploração do colonizador português, sinalizando o início de uma postura ativa contra o domínio colonial.
Sobre o autor
Luís Bernardo Honwana nasceu em 1942 na cidade de Lourenço Marques (hoje Maputo) em Moçambique. Em 1964, ele se tornou um militante da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) que tinha como propósito conseguir a independência em relação a Portugal, o que acabou levando-o à prisão por três anos. Enquanto estava encarcerado, escreveu o livro “Nós matamos o cão tinhoso!”, permanecendo encarcerado por três anos.
Estudou Direito na Universidade de Lisboa em 1970 e, após a Independência de Moçambique, foi alto funcionário do Governo e presidente da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique.
Todas as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2025 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2025 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2025
- Marília de Dirceu (1792) – Tomás Antônio Gonzaga
- Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
- Os ratos (1944) – Dyonélio Machado
- Alguma poesia (1930) – Carlos Drummond de Andrade
- A Ilustre Casa de Ramires (1900) – Eça de Queirós
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Água Funda (1946) – Ruth Guimarães
- Romanceiro da Inconfidência (1953) – Cecília Meireles
- Dois irmãos (2000) – Milton Hatoum
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Divulgação/Editora Kapulana