A internet mostrou que as notícias falsas possuem um peso preocupante. O termo “pós-verdade”, que surgiu em 2016, significa que as opiniões e versões sobre uma coisa ou acontecimento influenciam mais a opinião pública do que o fato em si. Esse fenômeno pode ser explicado de acordo com alguns fatores:
- a internet junto com as redes sociais trouxe a possibilidade de escrever e disseminar notícias de forma fácil e barata;
- nos últimos anos, começou um movimento de forte polarização política, que acaba influenciando a disseminação de notícias falsas para atingir negativamente à oposição;
- a falta de credibilidade das instituições tradicionais, como os veículos de comunicação, faz as pessoas buscarem a informação de outras formas;
- a globalização trouxe mudanças sociais e econômicas que geram um pensamento mais individualista e imediatista.
A questão é que foi com a web que as notícias falsas encontraram um terreno concreto para se espalharem. Qualquer informação é disseminada de forma muito rápida e em tempo real. Os algoritmos das redes sociais e dos mecanismos de busca possuem um filtro que faz aparecer no seu feed ou resultado de busca notícias e informações que casam com suas opiniões e visão de mundo, deixando de lado ideias divergentes.
O problema disso é que se formam “bolhas virtuais”, expressão pensada pelo autor Eli Pariser. Como a informação chega de forma personalizada, há um isolamento de quem pensa diferente. Dentro desse ambiente, a pessoa fica mais propícia a acreditar em conteúdos que confirmem sua visão de mundo, sem se preocupar com a veracidade da informação. Ao mesmo tempo, uma matéria com muita curtida ou acessos gera mais ganho com publicidade, independentemente do que é passado.
Esse isolamento que afasta a pessoa do contraditório, vai contra os ideais democráticos, que têm como ideia central a convivência entre pessoas de outros pontos de vista e a construção de diálogo.
O campo político mostra esse cenário, na semana anterior ao impeachment de Dilma Roussef, três das cinco notícias compartilhadas no Facebook eram falsas. Nos Estados Unidos, a leitura de notícias falsas superou a das verdadeiras antes das eleições. O Ibope mostrou que mais da metade dos entrevistados admitiram que serão influenciados pelas redes sociais nas eleições de 2018.
Além disso, como citado anteriormente, a falta de confiança nos veículos de comunicação faz os brasileiros procurarem notícias por conta própria. A confiança é construída por aqueles que pensam de forma parecida, sendo mais propensos a ignorarem informações que não vão de acordo com suas ideias, mesmo que sejam embasadas de fatos reais.
O Facebook e o Google foram alvos de críticas por não se manifestarem com a quantidade de notícias falsas disseminadas em suas páginas. Com isso, há um projeto agora para evitar que esses sites falsos anunciem em suas plataformas. Além disso, ambos anunciaram o “cross-check” que são grupos de checagem de dados para combater conteúdos falsos, a iniciativa já começou na França.
O perigo das notícias falsas remetem a um tempo de regimes totalitários que manipulavam fatos a favor dos seus interesses políticos. Os regimes democráticos estão regidos por uma lógica onde fatos se tornam fluidos e, a verdade passa a ser desprezada e transformada em uma afirmação que não exige confirmação. As notícias falsas na internet podem sim ser perigosas.