A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Geografia, da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, que será cobrada nos vestibulares para entrada na USP em 2027, 2028 e 2029.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova, compilamos um resumo completo sobre o livro de Andresen. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro ‘Geografia’
“Geografia” é o oitavo livro de poesia da escritora portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado pela primeira vez no ano de 1967. A escrita da obra é marcada por traços característicos da coletânea de Sophia: versos em linguagem clara, concisa, transparente e musical, em que a natureza é aclamada e busca-se alcançar a clareza sobre o mundo e sua relação com o ser humano.
Vemos em “Geografia” uma valorização dos elementos que compõem a natureza – os mares, o céu, o vento – e o simbolismo que os cerca. Além disso, Andresen trata da existência humana e de questões relacionadas à memória e à passagem do tempo, conectando esses aspectos às paisagens naturais. Por fim, há versos que entregam descrições e reflexões sobre seu país de origem, Portugal, e também sobre sua admiração pelo Brasil.
A natureza e sua geografia
O livro, conforme indica seu título, apresenta grande teor paisagístico. Sophia dedica muitos versos às paisagens que compõem a natureza, tratando desses cenários como extensões das experiências humanas. As emoções e a memória formam um elo com os elementos naturais, tomando uma representação simbólica e abrindo espaço para que os sentimentos sejam explorados – emoções tanto alegres quanto dolorosas.
Testemunhamos esses aspectos logo em “Igrina”, prosa poética que dá início à obra: “É esse o tempo a que regresso no perfume do orégão, no grito da cigarra, na omnipotência do sol. Os meus passos escutam o chão enquanto a alegria do encontro me desaltera e sacia. O meu reino é como um vestido que me serve. E sobre a areia sobre a cal e sobre a pedra escrevo: nesta manhã eu recomeço o mundo” (Igrina). Aqui, Andresen destaca o poder absoluto que o sol exerce sobre nós e o insere como observador do agir do eu-lírico no mundo, a natureza sendo, então, uma extensão daquilo que se é vivido e construído – com suas superfícies, com os animais que a habitam e com suas sensações.
A natureza, acompanhamos, constitui uma marca constante nos poemas que seguem “Igrina”. Inserida em temas diversos, ela se mescla às experiências relatadas mediante a maestria da construção lírica de Sophia de Mello, a qual ilustra a infinitude de sentimentos humanos valendo-se de metáforas ligadas às paisagens naturais e ao meio ambiente: “No meio-dia da praia o sol dá-me/Pupilas de água mãos de areia pura/A luz me liga ao mar como a meu rosto/Nem a linha das águas me divide/Mergulho até meu coração de gruta/Rouco de silêncio e roxa treva/O promontório sagra a claridade/A luz deserta e limpa me reúne” (Manhã).
As paisagens gregas também são destaque em uma seção específica de “Geografia”. Denominada “Mediterrâneo”, essa parte da obra foca em diversos aspectos da mitologia e da ambientação grega. Há uma referência constante aos deuses da cultura da Grécia, e a natureza do país é retratada com precisão: “Um mar horizontal corta os espelhos/E um sol de sal cintila sobre a mesa/Habitamos o ar livre rente ao dia/Rente ao fruto rente ao vinho rente às águas/E sob o peso leve da folhagem” (Tolon).
A natureza e a geografia não constituem, assim, somente meros espaços físicos. Os elementos constituintes do meio ambiente assumem vida e expressam liberdade e imensidão de emoções. A obra de Sophia é capaz de mostrar ao leitor, da maneira única construída pela autora, como a geografia forma o ser humano e, por sua vez, é também formada por ele. Não se trata, desse modo, apenas da geografia externa ao ser humano, mas daquela que lhe é interna e que delimita seu território pessoal.
As experiências humanas
A passagem do tempo e a solidão também são temas trabalhados por Sophia de Mello em seus versos. Em diferentes poemas que constituem “Geografia”, o eu-lírico reflete sobre o estado de solitude e introspecção em que se encontra, conforme liga essas sensações à transcendência e ao divino, ao sobrenatural: “Escuto mas não sei/Se o que oiço é silêncio/Ou deus/Escuto sem saber se estou ouvindo/O ressoar das planícies do vazio/Ou a consciência atenta/Que nos confins do universo/Me decifra e fita” (Escuto).
É, dessa maneira, nesse estado de silêncio e solidão que o eu-lírico é capaz de se encontrar e de se conectar consigo mesmo. A autora é capaz de expressar essa busca por si mesma em seus versos, trazendo musicalidade e espiritualidade em seus poemas: “E no silêncio ouvinte/O canto me reúne/De muito longe venho/Pelo canto chamada/E agora de mim/Não me separa nada/Quando oiço cantar/A música do ser/Nostalgia ordenada/Num silêncio de areia/Que não foi pisada” (Bach Segóvia Guitarra).
É possível observar, nos poemas acima citados, que a natureza nunca é deixada de lado. Andresen aborda a solidão, mas vemos que não há uma solidão completa, pois os elementos naturais – as planícies, o vento, a areia – fazem companhia ao poeta e o auxiliam em sua autorreflexão. O isolamento, assim, pode ser visto como uma chance de se ver apenas na presença de si mesmo e do mundo.
Em relação à passagem do tempo, vemos que há um diálogo entre passado e presente, e a questão da memória configura um elo entre os tempos. Através da revisitação de acontecimentos antigos, o eu-lírico faz reflexões íntimas e existenciais, dando novos significados às experiências passadas e compartilhando-as com o leitor: “De um amor morto fica/Um pesado tempo quotidiano/Onde os gestos se esbarram/Ao longo do ano/De um amor morto não fica/Nenhuma memória/O passado se rende/O presente o devora/E os navios do tempo/Agudos e lentos/O levam embora/Pois um amor morto não deixa/Em nós seu retrato/De infinita demora/É apenas um facto/Que a eternidade ignora” (De um amor morto).
Portugal e Brasil
Em determinados poemas, Sophia coloca seu país de origem, Portugal, em foco, tratando de temas relacionados à cultura e às lembranças que tem de seu lar. A autora exalta as paisagens do país, e principalmente o mar é tratado como uma representação de Portugal, já que constitui um elemento característico da história da região, tendo em vista as Grandes Navegações. As cidades portuguesas são retratadas nos poemas, as quais são descritas e homenageadas por Sophia: “De pedra e cal é a cidade/Com campanários brancos/De pedra e cal é a cidade/Com algumas figueiras/De pedra e cal são/Os labirintos brancos/E a brancura do sal/Sobe pelas escadas/De pedra e cal é a cidade/Toda quadriculada/Como um xadrez jogado/Só com pedras brancas” (De pedra e cal).
Já na parte do livro intitulada “Brasil ou do outro lado do mar”, Andresen dedica os poemas “Desdobramento”, “Manuel Bandeira”, “Brasília” e “Poema de Helena Lanari” ao Brasil. Neles, a autora homenageia regiões brasileiras, como Brasília, assim como o poeta Manuel Bandeira e a literatura brasileira. Ela também demonstra sua afeição pelo país e por sua linguagem, a qual, para Sophia, deve ser exaltada por sua clareza e por sua completa expressão dos significados: “Gosto de ouvir o português do Brasil/Onde as palavras recuperam sua substância total/Concretas como frutos nítidas como pássaros/Gosto de ouvir a palavra com suas sílabas todas/Sem perder sequer um quinto de vogal” (Poema de Helena Lanari).
O que poderá ser cobrado na Fuvest?
Considerando sua recorrência ao longo de toda a obra “Geografia”, a natureza e todos os simbolismos tomados por ela na coletânea de Sophia de Mello seriam aspectos que poderiam ser cobrados no vestibular.
A forma como a autora insere os elementos naturais em temas diversos no decorrer dos versos e a relação estabelecida entre eles e as experiências humanas seriam um tópico válido de análise. Além disso, uma discussão sobre o trabalho feito por Andresen ao retratar a memória e a solidão em seus poemas poderia ser exigida.
Outro ponto de interesse seria a linguagem concisa utilizada pela autora e a musicalidade e precisão de seus versos. As referências gregas e brasileiras presentes na obra também podem ser foco de debate no vestibular.
Sobre a autora
Um dos maiores nomes da literatura portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade de Porto, em Portugal, no ano de 1919, e foi uma escritora e poetisa portuguesa. Sophia é filha de Maria Amélia de Mello Breyner e João Henrique Andresen. Ela cursou Filologia Clássica em Lisboa, entre 1936 e 1939, porém não concluiu o curso. As aulas, no entanto, propiciaram o encontro de Sophia com a cultura grega, a qual vemos registrada nos versos de seus poemas.
Suas primeiras publicações foram realizadas na revista Cadernos de Poesia, entre 1940 e 1942, e seu primeiro livro poético teve sua estreia no ano de 1944, sob o título “Poesia”. A partir desse ano, Sophia dedicou-se inteiramente à literatura, redigindo poesias e também contos infantis, após seu casamento com Francisco Souza Tavares e a maternidade. A autora foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, considerado o principal prêmio da literatura portuguesa.
Andresen também participava ativamente do meio político, tendo participado de campanhas e manifestações políticas e se opondo ao regime salazarista. No campo literário, suas maiores obras são “O nome das coisas”, “A menina do mar”, “Coral e outros poemas”, entre outras. Sophia de Mello faleceu em 2004, aos 84 anos.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Reprodução/Rocco