Ligar a TV todo domingo para assistir aquele futebol e o jogo do seu time. Acordar no dia seguinte disposto a zombar do amigo que torce para o rival. Colocar a camisa do time, pegar a bandeira, fazer aquela fézinha e ir para o estádio da sua cidade para passar aquele nervosinho bom de uma partida do time do coração. Tudo isso já virou uma cultura popular muito disseminada de norte a sul do país. Mas e quando a torcida puxa um “ei, juíz,…”, o que isso tem a ver com a situação do Brasil?
Como já afirmado, o espaço de experiência que o futebol proporciona também deve ser encarado como um ambiente de sociabilidade da população, um espelho da realidade vivida por aqueles que participam dessa dinâmica popular brasileira. O gramado também é um campo que aquele espectador transfere suas animações, frustrações, anseios e… decepções. Mas como assim?
Ao assistir jogos de todos os times brasileiros, pode ter certeza que você irá perceber uma coincidência entre todos: o juiz é sempre “ladrão” (na linguagem popular). Normalmente, pensamentos assim vêm acompanhados de “juízes brasileiros são péssimos, bom mesmo é lá na Europa”. Mas como isso é possível? Será que bom mesmo só na Europa?
O óbvio precisa ser dito: o árbitro de uma partida representa o poder de justiça naquele ambiente de sociabilidade. O que recentemente observamos que une não apenas as torcidas de times brasileiros, mas também uma tendência de crença popular, é a deslegitimação do Poder Judiciário no país no imaginário da população. “Se a Justiça não funciona lá fora, por que funcionaria aqui dentro?”
A imparcialidade do poder de justiça no país ultimamente ultrapassa níveis de política. O futebol também acaba sendo um espaço de experiência que deve nos alertar para a necessidade que temos de fortalecer a legitimidade do Judiciário nacionalmente. É óbvio que uma mudança em nível institucional seria de grande benefício, mas nos pequenos gestos do cotidiano, a prática da justiça precisa ser reforçada. Assim sendo, “juiz ladrão, legitimidade popular da justiça brasileira é solução!”.