A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Dois irmãos, do escritor Milton Hatoum.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Milton Hatoum. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro Dois irmãos
A obra “Dois irmãos” foi publicada em 2000 e elaborada pelo escritor Milton Hatoum. O romance é ambientalizado em Manaus, no Amazonas, e aborda as complexas relações familiares entre os irmãos gêmeos Yaqub e Omar, protagonistas da história e personagens que estão sempre em atrito e envoltos em rivalidade, e o restante de sua família. Acompanhamos, assim, as situações e os dramas por eles vivenciados ao longo das décadas. Além dos embates familiares, o livro trabalha questões sociais e políticas dos anos em que a história se passa.
Moram juntos os irmãos Yaqub e Omar, Rânia, a irmã, os pais, Zana e Halim, e a empregada Domingas, junto ao filho. Esse filho, de nome Nael, constitui o narrador-personagem da trama e é, de certa forma, um dos protagonistas do romance. Nael expõe ao leitor aquilo que testemunhou vivendo junto à família para a qual trabalha a mãe e o que lhe era narrado por outros, e acompanhamos também seus próprios conflitos internos enquanto procura esclarecer o enigma relacionado à sua paternidade. O narrador desconfia que um dos gêmeos seria seu pai biológico, e o registro dos acontecimentos acaba por configurar uma maneira de Nael compreender sua própria identidade.
Os conflitos iniciais
A história tem início com o relato da morte de Zana, a mãe dos protagonistas. O narrador nos descreve as ilusões da mulher em seu leito de morte, em que acreditava enxergar o pai, Galib, e o marido, Halim, no quarto em que estava. Antes bela, Zana se encontrava abatida em seus últimos momentos, e seu questionamento derradeiro destaca o conflito que marcará a narrativa como um todo: “Meus filhos já fizeram as pazes?”. Ela falece sem uma resposta.
Temos, posteriormente, um regresso no tempo. Yaqub, com 18 anos, volta ao Brasil após ser enviado, a contragosto, ao Líbano, um ano antes da Segunda Guerra Mundial, e passar cinco anos no país. A viagem forçada foi uma tentativa da família de separar os gêmeos e amenizar os conflitos entre os irmãos, que apenas se intensificavam. Halim, o pai dos gêmeos, manifestou o desejo de enviar os dois filhos ao sul do Líbano, porém Zana fez com que somente Yaqub viajasse. A preferência da mãe por Omar, uma das razões da rivalidade entre os irmãos, deu seus indícios nessa escolha: “Durante anos Omar foi tratado como filho único, o único menino”.
Halim foi buscar Yaqub no Rio de Janeiro na ocasião de seu retorno. Ao observar as características do andar do filho mais velho – no nascimento, Yaqub chegou primeiro ao mundo; Omar, o caçula, veio minutos depois -, o narrador nos mostra uma comparação entre os gêmeos, detalhe que salienta como as diferenças entre eles são sempre ressaltadas ao longo da obra. Chegando em casa, em Manaus, Yaqub se perde em lembranças da infância, e o narrador observa que o irmão mais velho nutriu admiração por Omar um dia: “Yaqub se escondia, mas não deixava de admirar a coragem de Omar. Queria brigar como ele, sentir o rosto inchado, o gosto de sangue na boca, a ardência no lábio estriado, na testa e na cabeça cheia de calombos […]”. Todavia, o ódio sobrepôs esse sentimento, e, aos 13 anos, a primeira grande briga entre os gêmeos ocorreria e acarretaria sua separação.
Ambos Yaqub e Omar estavam apaixonados por uma garota chamada Lívia. Omar foi favorecido em um baile, em que começou a dançar com a menina na ausência do irmão, cuja mãe havia pedido que levasse a irmã, Rânia, para casa. Yaqub confidenciou a Domingas, a empregada da família, sua frustração com a situação, mas, posteriormente, na casa de vizinhos, ele acabou por beijar Lívia na frente de Omar, o que gerou uma extrema raiva no caçula e o levou a ferir o irmão mais velho no rosto. Nele, gravou uma cicatriz em formato de meia-lua, a qual se tornou uma marca viva do ódio entre eles. Após o ocorrido, Yaqub, sem entender o motivo de ter sido o escolhido, foi enviado ao Líbano. A tentativa de separar os irmãos para amenizar a situação foi, contudo, em vão, pois a aversão entre os dois não esvaneceu.
Avançando na história
Ao longo da obra, vamos acompanhando, na visão de Nael, as interações entre os personagens, os conflitos internos dos pais em relação aos filhos e os embates dos gêmeos. Os eventos se misturam às descrições da sociedade e do contexto da época: o crescimento desestruturado da cidade, as divisões sociais e étnicas, os contrastes regionais e o desenvolvimento econômico. O autor estrutura sua narrativa conectando todos esses aspectos em uma obra recheada de minúcias.
De volta ao Brasil, Yaqub investe em seus estudos e se mostra um promissor matemático. É incentivado pelo professor Bolislau, seu preferido, a viajar para São Paulo, dizendo que “Se ficares aqui, serás derrotado pela província e devorado pelo teu irmão”. Lá, gradua-se em engenharia e constrói uma vida profissional de sucesso . Ele também se casa, e descobrimos posteriormente que sua esposa é Lívia, uma das razões de suas desavenças com Omar.
Ao contrário do irmão mais velho, Omar, indisciplinado e rebelde, foi expulso do colégio, pois agrediu Bolislau. Ele é então matriculado em uma instituição conhecida como “Galinheiro dos Vândalos”, onde frequentemente se gaba de sua expulsão. O caçula segue por um caminho de festas constantes e bebedeiras, e, quando leva uma mulher para sua casa determinada noite, recebe um castigo do pai.
Omar chega a levar outra parceira à casa, Dália, porém, dessa vez, é Zana quem intervém, com ciúmes da mulher. Ela opta, após o ocorrido, por enviar o caçula para São Paulo para viver com o irmão, o qual se recusa a recebê-lo em sua residência, arcando, em vez disso, com os custos de um quarto em uma pensão e matriculando-o em um colégio. No entanto, embora tenha se comportado no início, Omar logo se rebela: após se envolver com a empregada do irmão, ele entrou na casa de Yaqub e, irado ao descobrir o casamento com Lívia, vandalizou as fotos do casal, roubou o passaporte e alguns dólares e viajou para os Estados Unidos.
A intensificação dos atritos
Algum tempo depois, Yaqub volta a Manaus para visitar a família. Trata-se de um momento em que o narrador, Nael, pensa ter desvendado o mistério sobre quem seria seu pai, já que testemunha Yaqub e Domingas, sua mãe, de mãos dadas. O enigma, no entanto, não é solucionado.
Ele retorna a São Paulo, e Omar, a Manaus. Enquanto Nael narra a história, tentando, como ele mesmo afirma, “recompor a tela do passado” mediante os relatos de Halim, somos apresentados a uma mulher conhecida como Pau-Mulato, nova paixão de Omar. O narrador nos diz que Zana, após os ocorridos com Dália, pensava que o filho mais novo não mais se apaixonaria. Ele, porém, não desistiu. Envolve-se, assim, com essa nova mulher, bem como com atividades de contrabando, e foge de casa. Os pais tentam encontrá-lo, e Zana consegue trazê-lo para casa.
São expostas ao leitor outras complexas relações envolvendo a família libanesa. Descobrimos que Nael, o narrador, nutre uma paixão por Rânia, que seria sua tia, considerando que um dos gêmeos poderia ser seu pai. Com ela, Nael compartilha uma única noite de amor. A irmã dos gêmeos, por sua vez, é, de certa maneira, apaixonada pelos irmãos e rejeita todos os pretendentes. Halim nunca quis ter filhos, mas cedeu aos pedidos da esposa, e muitas vezes sentia-se deixado de lado por ela, que favorecia o gêmeo mais novo. O retorno deste à sua casa acabou por deixá-lo desconfortável.
Halim, envelhecido e perdido em suas memórias, falece na véspera de Natal de 1968, no sofá de casa. Omar, na ocasião, quase atacou o cadáver do pai após dirigi-lo ofensas e foi parado por vizinhos e por Nael. Yaqub não compareceu ao enterro; ele enviou uma coroa de flores e uma frase como homenagem: “Saudades do meu pai, que mesmo à distância sempre esteve presente”. Todavia, mesmo longe, parecia mais presente que Omar, que estava no enterro, mas manteve-se distante todo o tempo e se afastou do túmulo do pai ao ver o choro da mãe. A situação trouxe, pela primeira vez, o registro de uma atitude de dureza e repreensão por parte Zana com Omar, semanas após o enterro.
‘Os dois filhos podiam trabalhar juntos’
Pouco tempo depois, Omar trouxe para casa Rochiram, um indiano que tinha planos de construir um hotel na cidade. O empresário notou que estava ganhando a confiança de Zana e, assim, visitava a família com frequência, sempre acompanhado do gêmeo caçula. A mãe, nos momentos a sós com o visitante, comentava sobre seu outro filho, engenheiro, e via na recém-amizade de Omar um meio para aproximar os irmãos, o que era seu grande sonho: “Os dois filhos podiam trabalhar juntos: Yaqub faria os cálculos do edifício, Omar poderia ajudar o indiano em Manaus”.
Omar, desconfiado dos planos da mãe, a qual já havia feito contato com Yaqub para falar sobre Rochiram, parou de levar o novo amigo para casa e se encontrava com ele em segredo. Yaqub se interessou pelo projeto do hotel, o que irritou Omar, que insistia para a mãe e para irmã que a busca pela concretização do plano e a amizade pertenciam a ele. No entanto, Yaqub havia feito um plano para trair o irmão; já estava associado a Rochiram e hospedado em um hotel em Manaus.
Em determinada manhã, ele visita a casa da família e, enquanto descansava e esperava por Domingas para lhe fazer companhia na rede, é agredido pelo irmão, que havia descoberto o que Yaqub pretendia e teria o matado, caso não tivesse sido impedido. Omar invadiu, posteriormente, o hospital em que o gêmeo estava e quase o espancou novamente, mas Yaqub fugiu a tempo e retornou a São Paulo.
Por fim, o projeto do hotel acaba por falhar. Domingas, pouco tempo depois do confronto entre os irmãos, adoece e falece, revelando a seu filho que havia sido violada por Omar no passado, fator que poderia denunciar ao leitor a paternidade de Nael. O fracasso do projeto gerou uma dívida com o empresário indiano, que pediu a casa como pagamento, conforme sugerido por Yaqub. Omar estava foragido, pois foi denunciado pelo irmão após o conflito, e é, mais tarde, capturado. Em meio a esses acontecimentos, voltamos à morte de Zana, introduzida no início do livro.
Final do livro
Nos momentos finais da obra, é revelado que Nael herda uma pequena parte da casa. Rânia chegou à conclusão de que Yaqub planejou o declínio de Omar: “Aos poucos, ela foi descobrindo que o irmão distante havia calculado o momento adequado para agir. Yaqub esperou a mãe morrer. Então, com truz de pantera, atacou. A fuga foi pior para Omar. Agora ele não tentava escapar às garras da mãe, mas ao cerco de um oficial de justiça”. Julgado, Omar foi condenado a dois anos e sete meses de prisão. Rânia, em fúria, disse a Nael que escreveria uma carta a Yaqub, deixando claros os seus sentimentos. Não houve resposta por parte do irmão. Nael decidiu se afastar, após isso, de Rânia e do comércio administrado por ela, onde lhe prestava alguns serviços.
Omar é liberto da prisão um pouco antes do prazo determinado. A morte de Yaqub é brevemente mencionada pelo narrador, enquanto refletia sobre as cartas que recebia do homem e sobre a equivalência das atitudes impulsivas e excessivas de Omar e dos planos calculistas de Yaqub. A cena final da obra descreve o breve reencontro entre Omar e Nael. O narrador revela: “Queria que ele confessasse a desonra, a humilhação. Uma palavra bastava, uma só. O perdão”. Todavia, sem palavras, com um olhar perdido, o caçula somente “deu as costas e foi embora”. A incógnita sobre a paternidade do narrador permanece.
Como o livro poderá ser cobrado na Fuvest?
Os conflitos familiares, a busca por identidade e por pertencimento e o contraste entre membros de uma família são temas centrais da obra e seriam aspectos relevantes para trabalhar no vestibular. A questão da memória, do passado, da revisitação dos acontecimentos de uma vida e da relação dessas lembranças com o presente também constitui um interessante tópico de análise.
Além disso, o contexto histórico e social da época em que se passa a história, a cultura de Manaus e os efeitos de eventos históricos diversos na cidade poderiam ser abordados. Por fim, a complexidade das relações familiares e o simbolismo presente nos constantes embates entre Yaqub e Omar poderiam ser explorados, assim como os aspectos estilísticos da obra e as conexões feitas pelo autor com outras referências, como a Bíblia, ao citar a rivalidade entre Caim e Abel.
Sobre o autor Milton Hatoum
Milton Hatoum é um romancista amazonense, nascido em Manaus no ano de 1952. Sua família possui origem libanesa. Em 1967, mudou-se para Brasília, onde concluiu o ensino médio e participou de uma passeata contra a Ditadura Militar. Chegou a ser preso, porém durante pouco tempo, e depois viajou a São Paulo. Lá, formou-se arquiteto em 1977 e tornou-se professor universitário.
Viveu na França entre 1980 e 1984, país em que estudou literatura. Depois, retornou ao Brasil e ingressou na Universidade Federal do Amazonas como professor. Seu primeiro romance foi publicado em 1989, intitulado “Relato de um certo Oriente”, obra que ganhou o prêmio Jabuti de melhor romance. Alguns anos depois, vivendo em São Paulo, dedicou-se somente ao trabalho com a escrita e foi colunista para o jornal O Estado de S. Paulo. Assim, tornou-se um dos autores da literatura contemporânea mais conhecidos.
Em seus livros, Hatoum é lembrado por valorizar a memória e a história de seus antepassados. Há destaque também para aspectos psicológicos dos personagens e para críticas sociais. Algumas de suas principais obras são “Dois irmãos”, “Cinzas do Norte” e “Órfãos do Eldorado”.
Todas as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2025 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2025 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2025
- Marília de Dirceu (1792) – Tomás Antônio Gonzaga
- Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
- Os ratos (1944) – Dyonélio Machado
- Alguma poesia (1930) – Carlos Drummond de Andrade
- A Ilustre Casa de Ramires (1900) – Eça de Queirós
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Água Funda (1946) – Ruth Guimarães
- Romanceiro da Inconfidência (1953) – Cecília Meireles
- Dois irmãos (2000) – Milton Hatoum
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Beatriz Kalil Othero/Portal Enem