A história da ciência é marcada de forma significativa por momentos, descobertas, realizações e, principalmente, por pessoas. Apesar do meio científico estar repleto de inovações, de estar sempre avançando e evoluindo, não está isento das desigualdades sociais e dos preconceitos. O racismo, o machismo e a homofobia foram fatores para descredibilizar e dificultar o caminho de muitos cientistas rumo ao sucesso. Por isso que devemos falar sobre as minorias dentro da ciência, sobre a representatividade, sobre o marco que eles deixaram. Na matéria de hoje, vamos conhecer um pouco mais sobre 5 cientistas negros que fizeram história.
Katherine Johnson (1918 – 2020)
A cientista espacial, física e matemática, Katherine Johnson, deixou um legado extremamente importante para mulheres na ciência, além de deixar um marco no avanço tecnológico.
Desde pequena, a americana era uma aluna prodígio. Aos 14 anos, ela terminou o ensino médio e recebeu seu diploma universitário já aos 18. Em 1953, Johnson começou a trabalhar na Nasa aos 35 anos, como “computadora humana” – nome dado às mulheres que, na época, faziam os cálculos matemáticos à mão, haja vista que os computadores eletrônicos ainda não existiam. O cargo era reservado inicialmente apenas a mulheres brancas, mas, a partir de 1940, passaram a contratar negras, que trabalhavam em uma ala segregada chamada “West Area Computers”, na sala “computadores de cor” (colored computer).
Na agência espacial norte-americana, ela era parte dessa equipe de mulheres negras que trabalhavam no Centro de Pesquisa Langley, na Virginia (EUA), onde faziam cálculos para o lançamento de sondas e foguetes. Foi Katherine quem forneceu os dados finais necessários para a missão que levou o astronauta John Glenn a orbitar a Terra pela primeira vez em 1962.
Na época, mulheres não participavam de reuniões, entretanto, como não havia lei que as proibissem, Johnson começou a frequentar os encontros. Outra injustiça comum e frequente era que apenas os engenheiros assinavam a autoria das pesquisas e dos cálculos, mesmo que tivessem contado com a colaboração de mulheres. Ou seja, mulheres eram constantemente negligenciadas e se tornavam invisíveis oficialmente. Em 1960, Johnson se tornou a primeira mulher de sua divisão a receber crédito por um relatório de pesquisa. Ao longo de sua carreira, ela assinou 26 documentos.
Por seus mais de 30 anos de trabalho na agência espacial, Johnson recebeu, em 2015, a Medalha Presidencial da Liberdade, que é a maior condecoração civil dos Estados Unidos. Sua história é retratada no filme Estrelas Além do Tempo, de 2017. Katherine morreu em fevereiro desse ano aos 101 anos.
Mae Jemison (1956 -)
Mae Carol Jemison é médica, engenheira e ex-astronauta estadunidense. Ela nasceu no dia 17 de outubro de 1956, no Alabama (EUA), em uma época em que a Nasa não permitia que mulheres se tornassem astronautas, principalmente mulheres negras. Entretanto, de forma alguma isso impediu Jemison de sonhar e desejar que algum dia pudesse ir para o espaço.
Jemison se formou em engenharia química pela Universidade Stanford e, depois, em Medicina na Universidade Cornell. Em 1987, ela conseguiu entrar para a equipe da Nasa após um longo processo seletivo: entre dois mil candidatos, ela foi uma das 15 pessoas selecionadas.
Apenas cinco anos depois da contratação, ela realizou o sonho de fazer parte da tripulação de um ônibus espacial, o Endeavour, na missão STS-47, que orbitou a Terra entre os dias 12 e 20 de setembro de 1992. Sendo assim, foi a primeira mulher negra a ir ao espaço. No ano seguinte, a astronauta resolveu se despedir da agência norte-americana para estudar mais sobre tecnologia espacial. Atualmente, ela lidera a organização 100 Year Starship, que tem como objetivo enviar humanos para além do Sistema Solar nos próximos 100 anos.
Ernest Everett Just (1883 – 1941)
Ernest Everett Just nasceu em 1883 e foi criado em Charleston na Carolina do Sul (EUA). Ele estudou zoologia e desenvolvimento celular na Universidade Darthmouth, em New Hampshire, e trabalhou como bioquímico estudando células no laboratório marinho Woods Hole, em Massachussets.
Foi instrutor de biologia na Universidade Howard antes de tornar-se o primeiro negro a receber o título de Ph.D. da Universidade de Chicago, como pesquisador na área de embriologia experimental.
Just foi pioneiro nas pesquisas de fertilização, divisão e hidratação celular e dos efeitos da radiação carcinogênica em células. Uma de suas principais descobertas é o reconhecimento do papel fundamental da superfície da célula no desenvolvimento dos organismos.
Ernest acabou se frustrando com o racismo que o impedia de ser contratado pelas grandes universidades americanas, o que fez com que ele se mudasse para a Europa em 1930. Lá, escreveu 70 estudos científicos e publicou 2 livros. Além desse grande legado, Ernest Everett marcou a sociedade da época por ter conseguido conquistar um nível superior de educação mesmo com todos os obstáculos raciais que teve que encarar.
Annie Easley (1933 – 2011)
Annie Easley foi uma matemática, programadora e engenheira espacial da NASA, trabalhando lá por 34 anos (atuou na agência espacial desde que ela se chamava Naca). A cientista estava ciente da discriminação racial que sofria no trabalho e foi inclusive cortada da maioria das fotos oficiais. Mas isso não impediu Annie de deixar sua marca.
Easley começou sua carreira como “computador humano” em 1955, fazendo cálculos para pesquisadores, e era uma das quatro únicas funcionárias afro-americanas no laboratório. Em uma entrevista sua de 2001, ela afirmou que nunca se propôs a ser pioneira: “Eu apenas tenho minha própria atitude. Estava aqui para fazer o trabalho e sabia que tinha a capacidade de fazê-lo, e era aí que estava o meu foco”.
Seu trabalho envolveu o desenvolvimento e a implementação de códigos de computador que analisavam tecnologias alternativas de energia. Ela também liderou a equipe que desenvolveu o software do estágio de foguete Centaur e ajudou a identificar sistemas de conversão de energia e outras alternativas para resolver problemas energéticos.
George Washington Carver (1864 – 1943)
Este cientista e inventor ficou mais conhecido por descobrir 100 usos para o amendoim. Mas isso é não é nem de longe sua única contribuição para ciência. Filho de escravos, Caver foi separado de sua família após um sequestro e, então, foi criado pelo casal que havia comprado seus pais. No Mississippi, teve dificuldades para encontrar uma escola que aceitasse alunos negros. Aos 13 anos, se mudou para o Texas para viver com uma família adotiva e continuar os estudos. A primeira universidade a aceitar Carver foi Highland University, que o rejeitou logo após descobrir que o aluno era negro.
Carver foi autodidata, conduziu experimentos biológicos de seu próprio projeto e acabou conseguindo um mestrado no programa de botânica da Iowa State Agricultural College, deixando sua reputação marcada.
Carver desenvolveu métodos de rotação de culturas, que revolucionaram a agricultura do sul nos EUA. Além disso, foi pioneiro em uma série de invenções práticas que tornariam a agricultura mais lucrativa e menos dependente do algodão, incluindo mais de 100 maneiras de monetizar batata-doce, soja e amendoim. Além disso, contribuiu também para que fazendeiros pobres tivessem uma produção mais sustentável.
Carver tornou-se consultor em questões agrícolas do presidente Theodore Roosevelt e, em 1916, era um dos poucos membros americanos da Sociedade Real Britânica de Artes. Não patenteou e nem lucrou com a maioria de suas criações, mas doou livremente suas descobertas para a humanidade.
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