As representações de Brasil em “Casa-Grande & Senzala” de Gilberto Freyre

Casa-Grande & Senzala

A definição de “clássico” nas ciências humanas refere-se a obras incontornáveis para o levantamento de uma discussão a respeito da produção intelectual referente a determinado a assunto, nem que seja objeto de críticas ou desusos. A produção de Gilberto Freyre, principalmente em sua obra “Casa-Grande & Senzala”, marcou uma viragem nos estudos referentes ao que era o Brasil.

Publicado em 1933, a obra principal de Freyre marcava um rompimento com uma literatura eugenista que marcou o final do século XIX. A noção pseudo-científica baseada na teoria do “Darwinismo Social” era traduzida às realidades brasileiras como um indicador de que a presença do negro na constituição da sociedade era um dos eixos explicativos do subdesenvolvimento. Segundo as teorias racistas da viragem para o século XX, o Brasil era atrasado devido à presença do negro.

Casa-Grande & Senzala

Por mais que “Casa-Grande & Senzala” (1933) reverbere ainda um espectro fruto de sua época, Freyre é um dos primeiros intelectuais – com uma produção amplamente difundida – a apontar que o problema do suposto “atraso brasileiro” não era o negro, mas sim a experiência da escravidão. A mudança do eixo explicativo para o subdesenvolvimento do país deixava de assinalar um ponto racial e trazia à tona a experiência da escravidão como uma mazela do passado da nação.

No entanto, para Gilberto Freyre, o escravizado não possuía agência histórica. Para ele, a opressão das forças escravistas fazia com que o escravo fosse reduzido à objetificação. Esse é um dos pontos mais criticados da produção de “Casa-Grande & Senzala”, principalmente a partir das décadas de 1980 e 1990, quando trabalhos referentes à formação de família, laços de solidariedade e resistência escrava ganham mais produção na historiografia brasileira.

É importante ressaltar que essa literatura da década de 1930 estava muito preocupada – assim como em Sérgio Buarque de Holanda, por exemplo – em responder as perguntas: “por que somos subdesenvolvidos? Por que somos como somos? E como chegamos até a contemporaneidade?”. No entanto, por mais que tenha representado uma viragem em termos explicativos, a produção freyriana foi, e é até os dias atuais, muito criticada, por ser superada em diversos pontos.

Uma das críticas feitas à obra “Casa-Grande & Senzala” é o seu elogio à colonização portuguesa. Para Gilberto Freyre, por ser um povo historicamente miscigenado – a partir da experiência da ocupação de mouros na península ibérica desde a Idade Média -, os portugueses estariam supostamente mais “preparados” para a realidade da mestiçagem das Américas.

Ainda segundo seus críticos, a obra freyriana abre interpretações para uma leitura da história brasileira a partir de um mito da “Democracia Racial”. Por mais que o autor nunca tenha mencionado essa ideia de maneira explícita, a leitura de Freyre de que a sociedade brasileira seria um resultado de contribuições das “três raças principais” que marcaram o percurso histórico do país  – o indígena, o africano e o português -, esconde, segundo uma historiografia mais atualizada já no século XX, uma desigualdade de forças e uma cultura de violência racial que marca a estrutura da formação contemporânea brasileira.

Por mais que seja um clássico da produção brasileira referente as suas origens, “Casa-Grande & Senzala” precisa ser revisitada com os olhares críticos das atualizações da produção científica histórica do país. Dialogar com a pauta desse “quem somos?” em Freyre pode ser um instrumento diferenciador em diversas temáticas de redação que abordem pautas sociais nacionais, principalmente pautas raciais.

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