A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está As Meninas, da escritora Lygia Fagundes Telles.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Telles. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro As Meninas
O livro “As Meninas”, escrito por Lygia Fagundes Telles e publicado em 1973, é uma obra que se passa no contexto da ditadura militar no Brasil. A história acompanha a amizade entre três jovens mulheres, oferecendo uma reflexão profunda sobre suas vidas, seus conflitos internos e as tensões políticas da época.
Com uma narrativa introspectiva, a autora mergulha no universo psicológico das personagens, explorando suas emoções e suas vivências em um cenário repleto de repressão e incertezas. “As Meninas” é uma leitura essencial para estudantes, especialmente para aqueles que se preparam para o vestibular da Fuvest 2026, pois a obra oferece uma rica análise das questões sociais e políticas de um período crucial da história brasileira, além de ser uma excelente oportunidade para refletir sobre a literatura nacional e a construção das personagens femininas na narrativa.
Quem são “As Meninas”?
Para entender melhor o enredo de “As Meninas”, é fundamental conhecer as personagens principais, cujas histórias são essenciais para a compreensão da trama e do contexto em que vivem.
Essas três personagens, com suas histórias complexas, refletem diferentes aspectos da sociedade brasileira durante a ditadura militar. Elas ajudam a entender a difícil realidade da época e oferecem ao leitor uma visão crítica sobre o contexto histórico e social do Brasil.
Lorena
Lorena Vaz Leme é uma estudante de Direito que pertence à classe média alta, sendo uma personagem de boas condições financeiras. Apesar de sua aparente estabilidade, ela carrega traumas profundos da infância que a afetam até a vida adulta. Quando era criança, Lorena presenciou uma tragédia familiar: um de seus irmãos matou o outro acidentalmente. Esse evento traumático marcou sua vida e continua a perturbá-la na fase adulta.
Ao longo da história, Lorena se apaixona por MN, um médico casado que a leva para casa em uma carona. Esse amor se transforma em um sentimento platônico, idealizado e distante, pois ela fica esperando, de forma quase obsessiva, por um telefonema desse homem. A relação de Lorena com MN, no entanto, parece ser uma fuga da dura realidade da época, marcada pela repressão da ditadura militar, e uma forma dela se distanciar dos problemas reais que enfrentava.
Lia
Lia de Melo Schultz, por sua vez, é estudante de Letras e faz parte de um grupo de pessoas que se opõem à ditadura militar. Ela é uma jovem com uma personalidade forte e independente, que não tem medo de falar sobre temas polêmicos, como sexo e liberdade.
Lia tem esperanças de sair do país com seu namorado, que está preso, assim que ele for libertado. Ela representa a resistência ao regime militar e a busca por liberdade, tanto pessoal quanto política.
Ana Clara
Ana Clara é uma personagem descrita como linda, mas com muitos problemas. Ela é viciada em drogas, o que afeta sua saúde mental e faz com que ela tenha ideias confusas e delirantes, razão pela qual recebe o apelido de “Ana Turva”.
Estudante de Psicologia, Ana Clara também teve uma infância difícil e cheia de abusos. Ela gosta de se exibir e se gabar de um noivo rico, embora ninguém tenha visto esse homem. Além disso, Ana tem um amante, Max, que é traficante de drogas e contribui para o estado de alucinação em que ela vive.
Enredo da obra
A história de “As Meninas” se passa em São Paulo, no ano de 1969, em um pensionato de freiras, onde vivem as três personagens principais: Lorena, Lia e Ana Clara. A trama é narrada de forma alternada pelas próprias personagens e por um narrador observador. Essa alternância de vozes pode ser confusa para o leitor no início, exigindo atenção, mas também torna a leitura mais dinâmica e interessante, pois permite acessar os pensamentos e sentimentos das personagens de diferentes perspectivas.
Nos primeiros capítulos, somos apresentados ao cotidiano de Lorena e Lia. Elas discutem temas sérios, mas de forma natural, como a alienação da classe burguesa e a repressão militar que caracteriza o período da ditadura. Em uma dessas conversas, Lia pede emprestado o carro de Lorena, e a personagem principal reflete sobre a violência no mundo, lembrando da morte de seu irmão Rômulo e de como esse evento traumático a marcou. Também reflete sobre o impacto disso em sua vida e sobre como conheceu suas duas amigas. Ainda no início do livro, Lorena conhece o Dr. MN, um médico que lhe dá uma carona na faculdade. A partir desse encontro, Lorena começa a idealizar um romance com ele, sonhando com um amor impossível. Apesar de nutrir esse sentimento platônico, ela também pensa em Fabrízio, um colega da faculdade com quem teve um breve envolvimento.
Paralelamente, vemos Ana Clara, uma personagem problemática que, em cenas intensas, aparece usando entorpecentes com seu amante Max. Em seu delírio, ela revira as lembranças de sua infância marcada por abusos. Ana Clara está grávida, mas não deseja continuar com a gestação, embora Max, por outro lado, queria que ela tivesse o filho. Essa situação complicada reflete a instabilidade emocional de Ana Clara, que vive em um mundo de alucinações e conflitos internos.
À medida que a história avança, o enredo vai se aprofundando nas experiências de Lia. Em determinado ponto, ela se encontra com seu amigo Pedro, em um local onde ambos discutem planos para a resistência contra a ditadura militar. Eles falam sobre suas experiências passadas e, durante uma conversa, Lia descobre que seu namorado, que está preso, será deportado para a Argélia. A notícia a deixa feliz, e ela a compartilha com a Madre Alix, uma das freiras do pensionato. A cena é marcada por um momento de grande tensão, porque há a descrição de uma cena de tortura ocorrida durante o regime militar, algo que a afeta profundamente. Lia também devolve o carro para Lorena, pede roupas emprestadas para o seu grupo de revolucionários e conta as novidades para a amiga, reforçando o vínculo entre elas.
Enquanto isso, Ana Clara, após usar drogas com Max, decide sair de casa. Ela tenta pegar um táxi, mas não consegue, e, então, aceita a carona de um homem desconhecido. Desconfortável com a situação, ela foge dele e, mais tarde, encontra outro homem em um bar, que parece mais velho e é também um desconhecido. Ele a convida para ir ao seu apartamento, e Ana Clara, sem hesitar, aceita. No apartamento, ela percebe algumas coisas estranhas, mas, mesmo assim, decide deitar-se na cama e adormecer, sem perceber os perigos que a cercam.
Esses eventos da história mostram os conflitos internos e externos das personagens, que vivem em uma época de repressão política e pessoal. A alternância de vozes e as diferentes experiências de Lorena, Lia e Ana Clara vão construindo uma trama intensa, que exige do leitor uma leitura atenta para compreender as complexas relações entre as personagens e o contexto histórico em que elas estão inseridas.
O que acontece no final?
No final da obra, Lorena começa a refletir sobre questões profundas e existenciais, como a famosa dúvida de ser ou não ser, de Hamlet, além de pensar sobre sua infância, profissões diversas e seu futuro. Nesse momento, ela encontra um rapaz chamado Guga, que tenta beijá-la, mas Lorena se recusa, pois ainda está apaixonada por MN, o médico com quem tem um amor idealizado. Enquanto isso, Lia vai visitar a mãe de Lorena. Durante a visita, a mãe de Lorena conta uma versão diferente da morte do irmão dela e sugere que a filha não está “muito bem da cabeça”. Ela também reclama do próprio casamento e de outras pessoas. Lia, após escutar as lamentações da mãe de Lorena, ganha roupas e mala para sua viagem para a Argélia.
Após isso, Ana Clara chega ao quarto de Lorena em péssimas condições, muito debilitada, suja e com dores. Ela está em um estado de alucinação, causado pelo uso de drogas. Lorena a acolhe e deixa Ana Clara descansar no seu quarto, enquanto ela vai até o quarto de Lia para conversar. Quando Lorena volta, percebe que Ana Clara morreu. Tudo leva a crer que ela faleceu devido a uma overdose.
Em meio ao desespero e à confusão, Lorena e Lia ficam aterrorizadas com o que pode acontecer. Elas temem que a polícia descubra o ocorrido, especialmente porque Lia é uma revolucionária e poderia ser presa se fosse encontrada no pensionato. Então, as duas tomam a decisão de maquiar o corpo de Ana Clara e deixá-lo em um banco de praça, afastando qualquer possibilidade de o caso ser ligado ao pensionato, o que causaria problemas para as freiras. Após esse trágico acontecimento, Lia e Lorena se separam de forma definitiva, com suas vidas seguindo caminhos distintos.
Qual o tema do livro As Meninas?
O tema principal de “As Meninas” gira em torno da amizade entre três jovens mulheres e os desafios que elas enfrentam em um período de repressão e violência, durante a ditadura militar no Brasil. O livro aborda questões como a busca por identidade, os conflitos internos das personagens e suas reações à dura realidade da época. Cada uma das personagens principais — Lorena, Lia e Ana Clara — vive suas próprias angústias e dilemas, seja lidando com traumas pessoais, amores não correspondidos ou com a opressão política.
Além disso, o livro trata de temas como a resistência à ditadura, a alienação da classe média, o uso de drogas como uma forma de fuga da realidade e as diferentes maneiras de lidar com a dor e a perda. A obra também explora questões existenciais, como o sentido da vida, as escolhas profissionais e as relações familiares, oferecendo uma reflexão profunda sobre o Brasil nos anos de 1960 e 1970, quando os direitos individuais eram severamente restringidos.
Portanto, “As Meninas” não é apenas uma história de amizade, mas também uma análise crítica sobre o contexto político, social e emocional de jovens mulheres em um período de grande tensão e repressão.
Sobre a autora
Lygia Fagundes Telles foi uma contista e romancista brasileira, reconhecida por sua contribuição à literatura nacional. Nascida em São Paulo, em 1923, ela começou sua carreira literária na década de 1940 e se destacou principalmente por suas obras que exploram a psicologia das personagens e as complexidades das relações humanas. Suas obras apresentam características da terceira geração modernista, com uma abordagem mais introspectiva e reflexiva, além de uma linguagem sofisticada e experimental.
Entre seus livros mais famosos estão “As Meninas” (1973), que aborda a ditadura militar e os conflitos pessoais de três jovens mulheres, e “Ciranda de Pedra” (1954), que mistura elementos de suspense e reflexão sobre a vida e as relações familiares. Lygia Fagundes Telles também foi premiada por sua contribuição à literatura, sendo reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. Sua escrita continua sendo uma parte fundamental da literatura brasileira contemporânea, estudada por sua profundidade e relevância.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Reprodução/Companhia das Letras