A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está A Paixão Segundo G.H, da escritora Clarice Lispector, que será cobrada nos vestibulares para entrada na USP em 2027 e 2028.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova, compilamos um resumo completo sobre o livro de Lispector. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro A Paixão Segundo G.H
No primeiro capítulo de “A Paixão Segundo G.H”., somos apresentados à protagonista, G.H., uma mulher de classe média que se dedica à escultura, embora de forma amadora. Ela vive sozinha em uma cobertura luxuosa e não tem filhos, nem está envolvida em nenhum relacionamento amoroso. O foco do livro está em sua vida interior, explorando seus sentimentos, pensamentos e reflexões mais profundas. Embora o enredo trate, sobretudo, das questões íntimas de G.H., a obra também traz à tona aspectos mais práticos do cotidiano da personagem.
No segundo capítulo, descobrimos que a empregada doméstica de G.H., Janair, pediu demissão. Essa atitude causa, de certa forma, um alívio em G.H., pois ela passa a ter mais tempo para si mesma e a oportunidade de organizar seu apartamento, que até então estava sempre impecavelmente arrumado por Janair. Ela decide, então, começar a arrumação pelo quarto da empregada. Ao contrário da cobertura luxuosa em que G.H. vive, o quarto da empregada é simples, com móveis modestos, mas surpreendentemente bem organizados, o que contradiz as expectativas de G.H. Para ela, aquele ambiente parece distante de seu próprio apartamento, quase como se fosse um lugar à parte. Ela compara o quarto da empregada a um “minarete”, uma torre de mesquita usada para chamar os fiéis para a oração, sugerindo que o espaço parece isolado e peculiar, como se fosse uma estrutura externa ao seu próprio mundo.
Ao explorar o quarto, G.H. encontra um desenho na parede, quase primitivo, feito pela empregada. Esse achado a faz perceber que, durante os seis meses em que Janair trabalhou para ela, nunca havia se atentado aos detalhes de sua aparência, como o formato de seu rosto. As duas sempre mantiveram uma relação distante, o que reflete a diferença de classe social entre elas.
Em seguida, G.H. abre o armário do quarto da empregada e, para sua surpresa, encontra uma enorme barata. Esse encontro a leva a uma reflexão profunda sobre a antiguidade e a sobrevivência das baratas, e ela começa a pensar que talvez sejam esses insetos que sobreviverão ao fim da humanidade. Em um momento de pânico, G.H. acaba matando a barata com a porta do armário. Esse ato aparentemente simples dá início a uma grande epifania para G.H. – uma revelação intensa sobre sua própria existência e percepção do mundo.
O mais interessante dessa experiência é que a epifania de G.H. surge de algo banal e cotidiano, como a morte de uma barata, e não de um evento extraordinário. Ao descrever essa experiência transformadora, G.H. utiliza uma metáfora visual do Oriente Médio, misturando as paisagens de sua cidade, o Rio de Janeiro, com imagens de um outro mundo, que parecem distantes e ao mesmo tempo fundem-se com a realidade ao seu redor. Nesse momento, o tempo e o espaço se tornam abstratos para G.H., como se ela estivesse atravessando uma barreira entre mundos distintos, e a sua percepção de tudo ao seu redor se altera profundamente.
O que significa a barata no enredo da obra?
Em “A Paixão Segundo G.H.”, a barata que a protagonista encontra no armário no segundo capítulo não é apenas um simples inseto. Ela assume um papel simbólico profundo na história, representando muito mais do que um simples “bicho do cotidiano”. Através desse encontro, a personagem G.H. começa uma jornada de autodescoberta e reflexão, que a leva a questionar a própria vida, as relações humanas e sua percepção do mundo.
A barata aparece de forma inesperada e provoca uma reação de pânico em G.H. Ela mata o inseto com a porta do armário, e esse ato desencadeia uma série de reflexões intensas sobre a natureza da vida, da morte e da sobrevivência. Para G.H., a barata representa algo antigo e resistente, algo que pode até sobreviver ao fim da humanidade. Essa percepção a faz pensar sobre a fragilidade da vida humana e sobre as coisas que permanecem, como a própria barata, que resiste ao tempo e aos desafios da existência.
O início de tudo
A barata, além de ser um símbolo de resistência, também representa o início de tudo. Esse inseto, que está na Terra há milhares de anos, muito antes da chegada do ser humano, carrega em sua presença a ideia de um tempo primordial e imutável. A barata, assim, simboliza um elo com o passado remoto do planeta, com as eras que existiram antes da humanidade, um reflexo da continuidade da vida, que se adapta e persiste, mesmo diante das mudanças drásticas que o mundo atravessa. Esse aspecto da barata reforça a ideia de que ela está profundamente enraizada na existência da Terra, sobrevivendo a transformações que para os seres humanos seriam impensáveis. Sua longevidade e adaptação se tornam um contraste com a fragilidade da vida humana, que é muito mais efêmera e sujeita ao esquecimento.
Mas o verdadeiro significado da barata vai além disso. O encontro com o inseto serve como um ponto de virada na vida de G.H. A partir desse momento, ela começa a experimentar uma epifania, uma revelação sobre si mesma e sobre o mundo ao seu redor. Ao matar a barata, G.H. não apenas enfrenta seu próprio nojo e pânico, mas também se vê diante da necessidade de transcender sua visão limitada da vida. Ela sente que, ao consumir a barata no fim do livro, será capaz de superar o nojo e alcançar uma nova compreensão de si mesma, da vida e da morte.
Transcendência
Ao decidir comer a barata, G.H. não está simplesmente se livrando de sua aversão, mas sim tentando transcender a experiência que vive, como uma maneira de alcançar algo mais profundo e significativo em sua existência. Esse ato extremo é uma forma de ir além das limitações do corpo e da mente, e buscar uma nova forma de compreensão e liberdade interior. Assim, a barata se torna um símbolo de algo que precisa ser enfrentado para que G.H. possa crescer e se transformar.
Portanto, a barata em “A Paixão Segundo G.H”. não é apenas um inseto comum. Ela representa um ponto de virada na história, sendo a chave para a transformação da personagem. A barata simboliza a conexão entre o cotidiano e algo mais profundo, entre a vida simples e uma grande experiência de autoconhecimento. Quando G.H. enfrenta sua aversão à barata, ela está, na verdade, enfrentando suas próprias limitações e tentando superar seus medos e bloqueios internos. A barata, com sua história ancestral, mostra que, ao superar o nojo e o repúdio, G.H. pode se libertar e alcançar uma nova compreensão de si mesma e da vida.
Como termina o livro “A Paixão Segundo G.H”?
Nas partes finais do livro, G.H. se vê envolvida em um intenso dilema interno, questionando-se sobre comer ou não a barata morta. O simples pensamento de fazer isso a repulsa profundamente, gerando um grande nojo. No entanto, ela começa a perceber que, para superar esse nojo e ultrapassar a experiência epifânica que está vivendo, precisa enfrentar esse desconforto de forma radical. É através desse ato de consumir a barata morta que ela acredita ser capaz de alcançar uma transformação, indo além de suas limitações e do que está lhe causando repulsa.
O livro chega ao seu desfecho com G.H. finalmente decidindo comer a barata morta. O impacto dessa experiência é tão forte que ela desmaia logo após, e, em seguida, sente a necessidade de vomitar. Esse momento é crucial para a personagem, pois, ao encarar um desafio tão repulsivo e confrontador, ela se vê frente a frente com suas próprias limitações, com a complexidade de sua natureza e com o processo de transcendência que está vivendo.
Sobre a autora Clarice Lispector
Clarice Lispector foi uma das escritoras mais importantes e inovadoras da literatura brasileira. Nascida na Ucrânia, em 1920, e naturalizada brasileira, ela se mudou para o Brasil ainda criança, com sua família, fugindo da perseguição de judeus na Europa. Cresceu no nordeste do Brasil, mais precisamente no Recife, e depois viveu no Rio de Janeiro, onde se formou em Direito, mas sempre foi mais apaixonada pela escrita.
Clarice começou a carreira literária nos anos 1940, com seu primeiro romance, “Perto do Coração Selvagem”, que logo chamou a atenção pela sua escrita introspectiva e profunda, focada nos sentimentos e nos conflitos internos das personagens. Ela se destacou pelo estilo único, marcado por uma linguagem complexa e simbólica, que explorava temas como a identidade, o existencialismo e as emoções humanas.
Além de romancista, Clarice também escreveu contos, crônicas e ensaios, sendo reconhecida por sua capacidade de expressar de maneira intensa e sensível o universo feminino e as angústias da vida cotidiana. Algumas de suas obras mais conhecidas incluem “A Hora da Estrela”, “A Paixão Segundo G.H”. e “Laços de Família.” Sua escrita é muitas vezes considerada difícil, mas ao mesmo tempo fascinante, e ela tem uma legião de admiradores até hoje.
Clarice Lispector faleceu em 1977, mas sua obra continua a influenciar escritores e leitores, sendo estudada nas escolas e universidades brasileiras e no mundo todo. Ela é lembrada como uma autora que, por meio da escrita, conseguiu ir muito além das convenções literárias, explorando os aspectos mais profundos e subjetivos da experiência humana.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Reprodução/Rocco