A mais alarmante estiagem da Região Sudeste ocorreu no verão de 2013/ 2014. As seis represas que constituem o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 55% da população da região metropolitana de São Paulo, chegaram a contar com menos 4% do volume total.
A falta d´água atingiu, também, os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas a crise no abastecimento de água nas grandes metrópoles não pode ser creditada apenas a estiagem prolongada. Há outros fatores que podem ser apontados. O rápido crescimento populacional nos centros urbanos da região mais habitada do país responde pelo aumento da pressão sobre as fontes de abastecimento, que não evoluíram na mesma proporção.
Na década de 1960, quando o Cantareira foi projetado, São Paulo contava com 4,8 milhões de habitantes. Esse número hoje passa dos 11 milhões, sem contar a região metropolitana.
A grande São Paulo tem à disposição mananciais na parte norte (Cantareira) e no Sul (Guarapiranga), além de reservatórios artificiais e a possibilidade de se abastecer de outras bacias mais distantes. O problema é que todo esse sistema não é interligado. Ou seja, em cenário ideal, se uma bacia for afetada pela falta de chuvas, outro manancial deve repor a perda. Após a crise, deslancharam obras para a captação de água na represa Cachoeira do França, localizada a 83 quilômetros da capital e a transposição das águas do Rio Paraíba do Sul para o Sistema Cantareira.
Seca no Nordeste
Mesmo o Brasil tendo 12% das reservas mundiais de água doce e grande número de aquíferos, a Região Nordeste conta com apenas 3% do total de recursos hídricos disponíveis do país, apesar de contar com 28% da população.
O clima semiárido e a presença de massas de ar quente estacionadas na região explicam a menor ocorrência de chuvas no Nordeste. Fenômenos climáticos sazonais como El Niño, que promove o aquecimento das águas oceânicas, também contribuem para a intensificação dos períodos de estiagem na região.
O polêmico projeto de transposição do Rio São Francisco propõe o desvio de uma pequena parcela do volume do rio para o abastecimento de leitos menores e açudes que secam durante o período das secas.
Água no Brasil
O Brasil não está imune à escassez hídrica, mesmo com 12% das reservas mundiais de água doce. O acelerado crescimento populacional nos centros urbanos exerce forte pressão sobre as fontes de abastecimento, que não conseguiram acompanhar tal crescimento na mesma proporção.
A água não consegue penetrar em lençóis freáticos por conta do desmatamento e impermeabilização do solo, prejudicando a recarga dos aquíferos e tornando mais intenso o processo de assoreamento dos rios.
A gestão dos recursos hídricos também afeta o abastecimento de água nos grandes centros. A Sabesp é uma empresa de capital misto (51% sob controle do Estado e o restante pertence a investidores privados). Esse tipo de empresa estaria mais voltada para a geração de lucro do que conceber a água como um bem universal e direito de todos.
O mundo tem sede
Muitas regiões do planeta estão sofrendo com a falta de água, resultado do esgotamento das reservas hídricas. A menor oferta de água gera tensões e conflitos por causa do acesso aos recursos hídricos.
No Oriente Médio, por exemplo, a Turquia, que tem o controle das nascentes dos rios Tigre
eEufrates, vem promovendo uma série de obras hidrelétricas na bacia desses rios. Uma das barragens em construção no Rio Tigre é a Ilisu. Ela é fortemente criticada pelas autoridades da Síria e do Iraque, que temem uma redução na vazão dos rios, o que pode afetar o abastecimento à população e o desenvolvimento da agricultura. Assim, a crise da água se torna mais um motivo de tensão nessa já conturbada região.