O trote universitário é uma prática tradicional nas instituições públicas e privadas de educação superior do país, “a brincadeira” por um lado tem sentido de interação entre os universitários, mas também tem a violência e inconsequência como palavras sinônimas.
O QG selecionou alguns trotes comuns pelo país para provocar uma reflexão sobre as possíveis consequências negativas dessa prática.
Um dos trotes mais comuns é o da ingestão de bebidas alcoólicas que está ligado a ideia de “ritual de passagem” do calouro (ou “bixo”) da vida estudantil para a universidade. A advogada Aline Ansel lembra que a prática pode ser considerada como “exposição ilegal”, maus tratos e ameaça.
Em 2009, Bruno César Ferreira entrou em coma alcoólico depois de ser obrigado a ingerir grandes quantidades de bebida durante um trote em Leme, no interior de São Paulo. Na época, com 21 anos, Bruno foi espancado e ficou bastante machucado.
Neste ano, os calouros da UFPR (Universidade Federal do Paraná) tomaram banho de lama para promover a integração entre calouros e veteranos. Porém, nem sempre as brincadeiras são sadias na UFPR (Universidade Federal do Paraná). No ano passado, um grupo de alunos distribuiu um informativo para orientar alunos vítimas de trotes a procurar a ouvidoria da universidade para registrarem práticas que considerarem abusivas ou mesmo crimes cometidos. Para a advogada Aline Ansel, ser obrigado a tomar banho de lama é um dos pode ser avaliado como “constrangimento ilegal.
Há trotes nos quais os calouros são obrigados a declararem palavras, frases e até mesmo músicas depreciativas. Segundo a advogada Aline Ansel, a prática é contra a dignidade da pessoa humana, uma vez que as letras das músicas são contra minorias e/ou apresentam algum tipo de preconceito.
O trote universitário teve origem na Europa, durante a Idade Média. Rasgar, tirar peças de roupas e raspar os cabelos dos novatos eram atos justificados, sobretudo, pela necessidade de aplicação de medidas contra a propagação de doenças. Já nessa época eram comuns casos trágicos por conta de trotes.
No Brasil, em 1831, foi noticiado o primeiro caso de morte decorrente de trote, tendo como vítima o estudante Francisco Cunha e Meneses, da Faculdade de Direito de Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O calouro não gostou das “brincadeiras” realizadas pelos veteranos e resolveu deixar a faculdade naquele momento. Na tentativa de deixar o local, Francisco foi esfaqueado por um dos estudantes mais velhos e morreu. A partir de então são comuns os casos trágicos ligados a trotes violentos praticados nas universidades brasileiras, a ponto de jovens estudantes abandonarem as instituições por medo, ainda hoje.
Qual tipo de trote você não gostaria de vivenciar? Leia a matéria: https://t.co/qVCXs4J4oP
— QG do Enem (@qgdoenem) February 16, 2016