A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Conselhos à minha filha, da escritora Nísia Floresta, que será cobrada nos vestibulares para entrada na USP em 2028 e 2029.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova, compilamos um resumo completo sobre o livro. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro ‘Conselhos à minha filha’
A obra “Conselhos à minha filha”, escrita por Nísia Floresta, foi publicada em 1842 e é o primeiro trabalho autoral da escritora. O livro é redigido seguindo a estrutura de uma carta destinada à filha, Lívia, e nele Nísia a aconselha sobre o melhor caminho a seguir em sua vida, tendo em vista o contexto histórico em que viviam.
O trabalho de Nísia Floresta é marcado pela defesa aos direitos das mulheres, em especial à educação, e não poderia ser diferente em “Conselhos à minha filha”. Floresta incentiva Lívia à prática do estudo, mostrando a posição da autora quanto à importância da educação feminina, debatida em “Opúsculo humanitário”, seu segundo livro. Nísia também reforça o quão essencial é exercer virtudes morais e cristãs. Ao final da obra, a autora dedica um conjunto de pensamentos em versos para Lívia.
Prefácio
O livro é aberto com uma mensagem de Nísia à filha, Lívia, no dia de seu aniversário de 12 anos, em 12 de janeiro de 1842. A autora, então, diz que, em vez de presentear a filha com artigos de moda, preferia oferecer-lhe conselhos para a vida, os quais seriam mais úteis, caso bom uso fosse deles feito.
Floresta descreve o amor que sente, como mãe, pelos filhos, e o coloca como superior a todos os outros, dizendo que “só uma mãe ama seus filhos com um inteiro e verdadeiro interesse. Se ele é virtuoso, ela o ama feliz, se ele não o é, segue o amando um pouco triste; mas o ama sempre, o ama com o sentimento mais poderoso, a compaixão!”.
O título de mãe, segundo a autora, seria aquele que verdadeiramente enobrece a mulher e alivia “o peso da desgraça e da tristeza que tanto oprimem”. Aqui, vemos uma referência de Nísia à situação da mulher no Brasil oitocentista, em que direitos não lhe eram garantidos.
A questão da educação é então abordada por Nísia pela primeira vez. Ela indica que o amor à maternidade a motivou a estudar “na esperança de poder, um dia, te dar as primeiras lições, e que me deu forças para suportar as terríveis dificuldades que se apresentaram em meu caminho, afinal, eu me encontrava só no mundo: mulher fraca, sem apoio e sem dinheiro!”. A educação feminina é um aspecto sempre presente nas obras de Nísia Floresta, e sua importância é reforçada ao longo de “Conselhos à minha filha”.
As virtudes morais e religiosas
Com a linguagem adaptada para a compreensão da filha, Nísia inicia suas recomendações mencionando o que chama de “virtudes filiais”, as quais serviriam de “base para todas as outras que virão a seguir”. Ela relembra seu próprio contexto familiar à filha, em que, em vista das dificuldades enfrentadas pelos pais, ao lado deles permaneceu, oferecendo conforto e auxílio. Assim, ela aconselha que Lívia faça o mesmo: “siga com inteligência os deveres da sua idade!”. A filha, então, deveria sempre se lembrar do amor e da obediência filial, imitando os exemplos que lhe foram dados.
Essa obediência, no entanto, não deveria ser estruturada no medo, mas, sim, no “prazer de estar realizando todos os seus deveres”. O bem também deveria ser praticado tão somente por ser o correto e pela satisfação de realizá-lo, da mesma forma que o mal deveria ser evitado por suas consequências dolorosas à alma.
A autora, para fundamentar suas ideias, vale-se de referências religiosas, pois as virtudes cristãs seriam, para ela, um importante meio de elevação da alma. Uma das ilustrações feitas por Floresta seria a história de Isaque e de seu pai, Abraão, na qual o filho, em obediência à figura paterna, submeteu-se à morte e foi recompensado. Essas virtudes, dessa maneira, determinariam as boas escolhas e contribuiriam para a construção de um espírito forte e digno.
Características exaltadas
Além disso, a modéstia, a naturalidade e a simplicidade são exaltadas, em detrimento da vaidade, esta que, para Nísia, seria um “vício desprezível que, geralmente, se atribui ao nosso sexo”, o qual poderia assassinar a inocência de Lívia. A mãe, ao longo de seus conselhos, reforça à filha que a vaidade de nada serve, porque pertence àqueles cujas almas são pequenas e de educação fraca.
Lívia deveria, então, cultivar a generosidade e a caridade, evitando o sentimento de superioridade, e se preocupar em auxiliar os necessitados: “Se dedique sempre ao oprimido; os desgraçados têm direito à nossa proteção e amizade”.
Nísia, dando continuidade aos seus conselhos, reforça a importância da bondade, pedindo à Lívia que não exite em ajudar o próximo, sem julgar suas circunstâncias. A ostentação, por outro lado, deve ser rejeitada: a satisfação do coração ao realizar boas ações deverá bastar. A mãe também pede à filha que cuide de entes queridos e amigos e que priorize a felicidade dos outros, pois isso seria um sinal de sua virtude, a qual nunca deve ser deixada de lado.
A busca pela educação
Nísia Floresta trata da educação feminina e destaca o contexto da mulher à sua época no decorrer de sua obra. A autora busca sempre incentivar o investimento da filha nos estudos – algo negado às mulheres no Brasil oitocentista -, pois, tendo acesso a essa sabedoria, suas verdadeiras virtudes seriam valorizadas, e a educação seria a única maneira de tornar o espírito “digno da estima e dos respeitos da sociedade”.
Assim, Nísia afirma que, apesar do imaginário social de que as ciências não seriam necessárias à mulher, sua pretensão era prover à filha o aprofundamento necessário na educação, de maneira que Lívia pudesse alcançar um espírito digno e livre de vaidades.
Além disso, ao dar conselhos sobre o contato com o sexo oposto, Nísia deixa clara a visão de grande parte da sociedade sobre a figura feminina. A autora aponta que havia dois tipos de “admiradores do nosso sexo, um mais comum, outro extremamente raro”. O mais comum – aquele que representa a desvalorização da mulher – trata-se do homem que vê as mulheres com desprezo e de forma objetificada, cujo valor recai apenas em sua beleza.
Desses homens a mãe pede que a filha se afaste, pois eles somente se preocupam com a fisionomia feminina. Já o grupo mais raro seria composto por “homens cujo coração foi formado na escola da virtude, para honra da humanidade”. É um homem desse tipo que Nísia recomenda à filha, uma vez que “[a]dmirando nossos talentos, ele não receia que ultrapassemos os limites impostos a nós”.
Final do livro
Mediante esses conselhos, é possível ao leitor ter uma visão sobre a defesa que a autora estabelece à educação feminina, que, para ela, é de extrema importância para formar as virtudes da mulher e valorizá-la na sociedade.
Vemos também um retrato do contexto de desvalorização em que as mulheres se encontravam e o encorajamento que Nísia procura passar à filha para que ela compreenda o lugar que ocupa socialmente e, apesar da resignação, não desista de buscar desenvolver o intelecto.
Já ao final de “Conselhos à minha filha”, Nísia Floresta resume, em versos, os conselhos descritos ao longo da obra. A autora reforça o desejo de que a filha ouça suas recomendações e retoma as virtudes anteriormente destacadas, como a bondade, a sabedoria e a generosidade. De maneira poética, Nísia enfatiza a relevância do aprimoramento do espírito, do caráter e do amor e reafirma à filha aquilo que acredita ser o melhor modo de se viver.
O que poderá ser cobrado na Fuvest?
Questões relacionadas à educação feminina e às virtudes religiosas e morais, temas centrais trabalhados em “Conselhos à minha filha”, podem marcar presença no vestibular, considerando também o foco educacional de toda a obra de Nísia Floresta e seu pioneirismo.
Além disso, o contexto social e histórico da obra pode ser trabalhado, tendo em vista que a defesa da autora ao direito educacional da mulher se dava em uma época em que os direitos femininos eram negados e desvalorizados.
A linguagem adotada por Nísia e a estrutura epistolar do livro também podem ser tópicos de análise, assim como o conteúdo final em versos elaborado pela autora.
Sobre a autora
Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida pelo seu pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta – ou somente Nísia Floresta -, nasceu em 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, e foi uma educadora, escritora e poeta brasileira. Era filha de um advogado português, o qual, liberalista, incentivava a paixão da filha pelos livros.
Essa paixão a levou a assumir o nome Nísia Floresta Brasileira Augusta para se dedicar à escrita. A escolha do pseudônimo se devia ao nome da fazenda onde nasceu e ao seu amor pelo Brasil e por Manuel Augusto de Faria Rocha, seu marido.
Em 1831, o jornal Espelho das Brasileiras publicou uma série de artigos redigidos por Nísia, nos quais ela dissertava sobre a condição das mulheres no século XIX. Seu primeiro livro, “Direito das mulheres e injustiça dos homens”, foi publicado um ano depois, sendo uma tradução do livro “Woman not inferior to man”, divulgado por um(a) autor(a) ainda hoje desconhecido(a), de pseudônimo Sophia. O primeiro trabalho autoral de Nísia Floresta foi “Conselhos à minha filha”, livro reconhecido por ser a primeira obra de autoria feminina publicada no Brasil.
Nísia, em seus escritos, defendeu pautas sociais importantes, e sua luta em prol da educação feminina a levou, em 1838, a fundar o Colégio Augusto, exclusivo para meninas. Sua instituição de ensino possibilitou a essas meninas o estudo de matérias como matemática e português em uma época em que se valorizava somente a educação doméstica para as mulheres. Nísia Floresta foi um marco para a educação feminina e é considerada uma pioneira na discussão sobre o feminismo no Brasil.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Reprodução/Editora Casa Amarela