A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está O Cristo Cigano, da escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, que será cobrada no vestibular para entrada na USP em 2026.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova, compilamos um resumo completo sobre o livro de Andresen.
A obra será leitura obrigatória somente na Fuvest 2026, representando uma forte aposta para que seja abordada no vestibular, já que é o único ano em que ela poderá ser cobrada dessa forma. Portanto, é relevante entender, por exemplo, como a poesia de Sophia se relaciona com o poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto e como dialoga com o estilo barroco. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro ‘O Cristo Cigano’
A coletânea reúne 11 poemas na obra que variam na métrica, além de um poema inicial que faz menção direta a João Cabral de Melo Neto para entender sobre “A palavra faca”, já que a narrativa contaria uma história que o autor divulgava.
Nessa história, é retratado, com narrador de terceira pessoa, um escultor recebe uma missão de alguns “homens escuros”:
Tu esculpirás Seu rosto
de morte e de agonia.
Pela interpretação com o título, entende-se que o rosto a ser construído seria de Jesus Cristo, até por conta do catolicismo de Sophia.
O escultor segue em busca de inspiração “Como se buscasse/ Uma presença ausente”. Ele estava em busca da morte para poder retratá-la na missão de seu “Destino”.
Eventualmente, no poema “O amor”, ele encontra um um cigano a se despir sozinho em um rio e, lá, vê a sua inspiração e a associação com a faca que a autora elenca recorrentemente nos poemas.
Só existe o teu rosto geometria
Clara que sem descanso esculpirei.
E noite onde sem fim me afundarei.
Ele tenta, então, reecontrar o cigano em outros dias, mas falha e se sente como se “De uma faca nua” ele fosse atravessado diariamente e dividido. Então, em “Morte do cigano”, o escultor decide o matar.
Por fim, em “Aparição”, acompanhamos a morte do cigano e a reação do escultor para sua inspiração:
E devagar devagar o rosto surge
O rosto onde outro rosto se retrata
O rosto desde sempre pressentido
Por aquele que ao viver o mata
Seus traços seu perfil mostra
A morte como um escultor
Os traços e o perfil
Da semelhança interior.
Relação com João Cabral de Melo Neto
Assim como o autor de “Morte e Vida Severina” (1955), Sophia traz uma poesia de linguagem econômica e objetiva, com versos curtos, no máximo com métrica de decassílabos.
Sophia foi profundamente influenciada por João, inclusive dedicando este livro ao autor brasileiro e fazendo referências à imagem da faca da obra nas obras do brasileiro em “Uma faca só lâmina” ou “A escola das facas”.
Os dois tinham uma relação literária muito forte e a figura da faca pode ser abordada pela FUVEST a partir da forma como elas são apresentadas pelos autores, de forma a comparar suas semelhanças e diferenças semióticas.
Barroco
Ao trazer temáticas sobre o conflito humano, a morte e a religião, Andersen evoca diálogo com a estética barroca nos poemas. A dualidade é essencial para seu entendimento e atravessa toda a obra.
O destaque à arte esculpida de uma figura religiosa como Jesus Cristo entra em contraste com a moral cristã a partir do assassinato de um homem. Aqui, o contraste entre luz e sombras é destacável, como pela contraposição entre a Primavera e a escuridão figurada pelas noites em que os “homens escuros”, que ordenaram a missão de “Destino” do escultor, aparecem e o tornam obcecado.
A retratação entre amor e morte também é evidente na leitura, pois é comentado em diversos momentos que o escultor estava atravessado pelo amor após o encontro com o cigano. Esse amor, no entanto, entra em contraste com a obsessão e o assassinato do homem.
Para dar vida à escultura divina, o escultor recorre à morte de um homem mortal. A imagem da faca é vista como portadora de gumes, que fere o escultor obsessivamente, até que ele sente a necessidade de também ferir com ela.
Sobre a autora Sophia de Mello Breyner Andresen
Nascida no Porto, Portugal, Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) foi uma das mais importantes poetisas portuguesas contemporâneas. Foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prêmio Camões, o maior prêmio literário da língua portuguesa, em 1999.
Imerso na rica tradição literária portuguesa, seu trabalho reflete uma profunda conexão com a natureza, o mar e a cultura clássica, especialmente a grega. Sophia também se destacou por sua participação ativa na oposição ao regime salazarista, sendo uma voz importante na luta pela liberdade e democracia em Portugal. Sua obra é marcada pela clareza e simplicidade, celebrando a beleza do cotidiano e a profundidade das emoções humanas.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Reprodução/Companhia das Letras