A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Nebulosas, da escritora Narcisa Amália.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2026, compilamos um resumo completo sobre o livro de Narcisa Amália. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2026 a 2029!
Nebulosas
O livro “Nebulosas” foi o primeiro e último livro publicado pela poeta Narcisa Amália de Campos, em 1872. A obra consiste em uma coletânea de 44 poemas e gerou grande repercussão na época de seu lançamento, uma vez que publicações de autoria feminina eram raras.
Os temas abordados pela autora são variados: vemos versos românticos, descrições do cotidiano de Narcisa, homenagens a familiares e amigos, análises da sociedade e questões ligadas à espiritualidade e à história do Brasil. Apesar da ousadia em tratar de assuntos de extrema relevância social, Narcisa foi alvo de críticas, pois acreditava-se que os assuntos sobre os quais escrevia seriam impróprios para uma mulher. No entanto, seus poemas causaram impacto, sendo elogiados por até mesmo Machado de Assis, segundo registros da época.
Romantismo
Uma das marcas de Narcisa em “Nebulosas” é sua sensibilidade poética e a ênfase dada a sentimentos intensos. A autora, tendo como base principalmente o Romantismo e navegando por características das três fases desse movimento, expressa, em seus versos, dores, amores e melancolia, fazendo uso de profunda subjetividade e reflexão.
O eu-lírico dos poemas, em determinados versos, reflete sobre seus sentimentos em relação aos acontecimentos de sua vida, ao passado e às pessoas de seu convívio. Vemos, por exemplo, palavras dedicadas à figura simbólica materna no poema “Voto”: “Os filhos todos submissos junquem/De rosas tua estrada;/E curvem-se os espinhos sob os passos/Da Mãe idolatrada!/Tais são as orações que aos céus envia/A tua pobre filha;/E Deus acolhe o incenso, embora emane/De branca maravilha!” (Voto). A autora também relembra sua infância no poema “Saudades” e exalta os momentos vividos e os lugares repletos de lembranças do passado: “Lançava-me correndo na avenida/Que a laranjeira enchia de perfumes!/Como escutava trêmula os queixumes/Das auras na lagoa adormecida!” (Saudades). Os poemas da autora demonstram, assim, intensidade de emoções e ênfase na beleza dos sentimentos, em especial o amor, assim como na pureza e no sofrimento a eles conectados.
A natureza, além disso, é outro aspecto do movimento romântico presente na coletânea de Narcisa. Sendo uma constante ao longo da obra, ela é retratada como um reflexo das emoções humanas – e do eu-lírico – e é exaltada, por vezes assumindo um caráter divino: “Quando desci mais tarde, deslumbrada/De tanta luz e inspiração, ao vale/Que pelo espaço abandonei sorrindo,/E senti calcinar-me as débeis plantas/Do deserto as areias ardentíssimas;/Ao fugir das sendaes que estende a noite/Sobre o leito da terra adormecida,/Fitei chorando a aurora que surgia!/E – ave de amor – a solidão dos ermos/Povoei de gorjeios melancólicos!….” (Nebulosas).
Outras características do Romantismo encontradas na obra são a idealização das emoções e o tom melancólico e reflexivo dos versos, repletos de metáforas e considerações sobre as incertezas da vida e os mistérios do universo: “Meu anjo inspirador é frio e triste/Como o sol que enrubesce o céu polar!/Trai-lhe o semblante pálido – do antiste/O acerbo meditar!/Traz na cabeça estema de saudades,/Tem no lânguido olhar a morbideza;/Veste a clâmide eril das tempestades,/E chama-se – Tristeza!...” (Sadness). A autora também realiza um movimento inovador em sua coletânea ao inserir diversas críticas sociais em seus poemas, sobre as quais falaremos adiante.
Questões sociais
Em “Nebulosas”, Narcisa Amália, em um gesto inédito para a época – quando se esperava da mulher somente versos de amor -, incorporou em seu trabalho críticas sociais a vários aspectos da sociedade brasileira e aos problemas os quais testemunhava. Suas opiniões, registradas em linguagem poética e sutil, refletiam as preocupações da autora em relação a variadas questões sociais relevantes: a desigualdade de gênero, as dores da escravidão, a defesa ao abolicionismo e as disparidades entre classes sociais.
A publicação de sua obra, em 1872, em si já demonstrava a tendência da autora em lutar contra desigualdade de gênero e defender a importância da voz feminina. Como indicado anteriormente, lançamentos de livros por mulheres eram raros, e, quando a sociedade se deparava com escritos femininos, apenas histórias de amor eram esperadas. Narcisa não só ousou ao publicar seu livro em um campo dominado por homens como também abordou assuntos considerados incomuns a uma mulher, pois acreditava que cabia ao poeta a tentativa de transformar o mundo por meio de sua arte.
Em determinados poemas, recheados de descrições do mundo espiritual e carregados de transcendência, é possível ver menções ao lugar designado à mulher e o desejo por mudanças: “Mas quem és, tu que vens erguer do pélago/A aurora funeral de meu futuro?/Fala! Quem és, que um ósculo tão puro/Depões em minha fronte de mulher?!…/’Sou a Esperança, disse; em minha túnica/Brilha serena a lágrima do aflito;/Tenho um sólio no seio do infinito,/E banha-me o clarão do rosicler!/Abre-me o coração pleno de angústias,/Conforto encontrarás em meu regaço;/Criarei para ti mudanças no espaço/Onde segrede amor aura sutil!/Onde em lagos azuis de areias áureas/S’embalem redivisas tuas crenças,/E à meiga sombra das lianas densas/Vibres cismando às notas do arrabil’” (Visão).
Já em outros poemas, Narcisa trata da situação daqueles marginalizados pela sociedade, demonstrando empatia pela dor humana e registrando críticas às injustiças normalizadas no Brasil. Observamos, em determinados versos, a aversão à política escravista em vigor, assim como a defesa de um discurso abolicionista. No poema “O africano e o poeta”, por exemplo, podemos perceber a tristeza da poeta quanto à condição dos escravizados; ela dá voz a eles e expõe ao leitor a violência de seu estado: “Depois, o castigo/Cruento, maldito,/Caiu no proscrito/Que o simun crestou/Coberto de chagas,/Sem lar, sem amigos/Só tendo inimigos/Quem há como eu sou?!,…/- Quem há?… O poeta/Que a chama divina/Que o orbe ilumina/Na fronte encerrou!…” (O africano e o poeta). No poema “Miragem”, vemos outra passagem sobre o tema: “E sob o céu sempre belo/Da mais sedutora plaga,/Beija – o rei – da natureza/O ferro que o pulso esmaga?!/Qu’ importa que os sáxeos montes/- Atalaias de horizontes -/Clamem do ar n’amplidão:/’Levanta-te, ó povo bravo,/Quebra as algemas de escravo/Que aviltam-te o coração’?!…” (Miragem).
Espiritualidade
A mortalidade e a efemeridade da vida são tópicos muito vistos ao longo da obra. A autora explora o mundo espiritual e dialoga com o sobrenatural em diversos momentos, valendo-se da conexão com o desconhecido para refletir sobre os mistérios do viver e da existência humana. Os poemas revelam um desejo de contato com o divino e um respeito pelo sagrado, pelo cosmos. A própria natureza é tida como uma manifestação dessa transcendência, e um tom místico é adotado para descrevê-la. É demonstrada um grande admiração pelos elementos que a compõem – o céu, as estrelas e os mares – e um desejo por uma compreensão maior de sua grandiosidade: “Estendo-te os braços trêmulos,/Vem desvendar-me o mistério;/Contar-me as latentes dores,/A causa dos teus palores,/Rainha do reino aéreo” (À Lua).
O que poderá ser cobrado?
Com temas diversificados, o livro “Nebulosas” será capaz de trazer discussões produtivas e relevantes ao vestibular. Uma vez que apresenta diferentes particularidades do movimento romântico, uma análise sobre as construções líricas realizadas pela autora pode ser cobrada, bem como um desdobramento de seus versos e das relações estabelecidas entre eles e o Romantismo.
Além disso, as críticas sociais presentes nos poemas remontam a discussões relevantes ainda na atualidade e podem marcar presença nas provas. O pioneirismo de Narcisa e sua corajosa abordagem desses temas no século XIX também seria um tema relevante para se pensar. O simbolismo imbuído em seus poemas e a questão da espiritualidade são mais alguns assuntos interessantes e passíveis de análise no vestibular.
Sobre a autora Narcisa Amália
Narcisa Amália de Campos foi uma escritora, poeta e jornalista brasileira nascida em 1852, em São João da Barra, no Rio de Janeiro. Seus pais, Jácome de Campos e Narcisa Ignácia de Campos, foram responsáveis por sua alfabetização, aos quatro anos de idade, e a família se mudou para Resende quando a menina estava com 11 anos.
Narcisa é considerada a primeira mulher jornalista do Brasil. Ela exerceu sua profissão em diversos jornais, como A República e Correio do Povo. Em 1872, seu único livro, “Nebulosas”, foi publicado, o qual lhe garantiu o prêmio “lira de ouro” em 1873. Já em 1874, recebeu uma pena de ouro da Mocidade Acadêmica, e a resposta da autora ao prêmio foi marcada por um discurso feminista e pela defesa da liberdade feminina. Narcisa é vista como uma das primeiras vozes feministas brasileiras.
Em 1880, Narcisa Amália se casou com um homem chamado Francisco Cleto da Rocha. No entanto, pouco tempo depois, o casal se separou, pois Francisco, incomodado com o sucesso da esposa, espalhou boatos de que a autoria dos poemas da autora não era legítima. Isso fez com que Narcisa, em uma espécie de exílio, fosse para São Cristóvão, no Rio de Janeiro, em 1889, e abandonasse a carreira literária para lecionar em uma escola pública. Por isso, sua primeira e última coleção de poemas foi “Nebulosas”, obra extremamente relevante e que foi reconhecida por até mesmo Machado de Assis e Dom Pedro II à época.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Fotos do post: Reprodução/Penguin & Companhia das Letras