A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Água funda, da escritora Ruth Guimarães.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Guimarães. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro Água funda
“Água funda” (1946) se destaca por tratar de temas socioculturais muito importantes na atualidade, como a identidade nacional afro-brasileira, o folclore, a modernização industrial do espaço rural e as desigualdades sociais.
Assim, é importante entender como a contraposição entre a modernidade ou a tradição, a oralidade ou a escrita e o realismo ou o misticismo é retratada no romance sob a história da “Mãe do Ouro”.
Pensando nisso, elaboramos este resumo, para que você aprenda meios de refletir sobre a obra e relacionar com seus conhecimentos socioculturais.
Enredo do livro
Na Fazenda Olhos D’Água do Vale do Paraíba, zona rural entre Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, a história traz dois grandes momentos temporais: um no fim do período escravagista e o outro, anos depois.
Sinhá Carolina
Sinhá Carolina, a dona da fazenda, é viúva e mora com sua filha, Gertrudes. Por não aceitar o romance entre Gertrudes e o filho do capataz, Sinhá fica sozinha até se casar com o filho expulso pelo dono da Fazenda do Limoeiro. Ele a abandona, no entanto, na estação de trem, depois que ela vendeu todos os seus bens e a fazenda.
Sozinha, falida e sem dinheiro, ela enlouquece e volta à região com o apelido de “Choquinha, a mendiga de Olhos D’Água”.
Curiango e Joca
O segundo momento envolve a história da Curiango e do Joca. Ao se apaixonar e dançar junto com Curiango em um casamento, Joca é encontrado machucado e tendo alucinações. Curiango, entretanto, ainda se casou com Joca, que trabalhava na usina Olhos D’Água.
Isso acontece com Joca depois de ele ter zombado da lenda da Mãe de Ouro, uma lenda regional que indicaria veios de ouro, normalmente na forma de uma bela mulher ou de uma bola luminosa.
Com o passar do tempo, Joca alucina com a própria Mãe de Ouro e sai em busca da entidade folclórica.
A linguagem
O romance é retratado por um(a) narrador(a) em terceira pessoa sem muitas informações sobre sua identidade, podendo ser uma representação figurativa da contação de causos caipiras ou mesmo de um alter ego de Ruth Guimarães. Há alguns momentos com a presença de um narratário pelo uso de vocativo, como em “Pois é ele bateu a pé, moço, bateu a pé”.
Em toda a obra, o comportamento regional dos personagens é destacado de forma não estereotipada para a representação do “caipira” sem caráter pejorativo, como pela retratação de comidas típicas e ditados populares:
“Sabe como é a comida aqui: às quatro horas da manhã, antes de pegar no serviço, café preto com farofa de ovo. Às nove o almoço. Quem começa cedo tem fome cedo. A comida é de sustância: virado de feijão com torresmo e couve. Paçoca de carne-seca. Outras vezes, arroz com palmito, orelha de porco no feijão. Abóbora, angu, inhame, cará de árvore, mangarito… Gente da cidade não gosta disso. Mas quem é que aguenta, dos da cidade, puxar guatambu no eito, das quatro às quatro?”.
Ainda é relevante como a memória coletiva é retratada acerca da questão do fim da escravidão no Brasil, destacando o quão recente todo esse terror era:
“A casa-grande pode-se dizer que é de ontem. Tem pouco mais de cem anos e ainda dura outros cem. […] Não adianta, Alguma coisa continua triste. Não há sol que espante os pensamentos da gente, num lugar vazio assim. Dizem que essa casa é assombrada por causa do terreirão, onde os negros morriam debaixo do açoite. Muitos não acreditam. São abusantes. Pode ser e pode não ser”.
Como a Fuvest pode cobrar o livro Água funda?
A Fuvest costuma cobrar questões sobre as leituras obrigatórias tanto na primeira quanto na segunda fase. Em ambos os casos, normalmente, são feitas perguntas sobre o enredo, buscando relações com a realidade contemporânea ou análises críticas sobre a leitura da obra.
O vestibular pode cobrar observações acerca do contexto histórico do tempo narrativo, em principal na correlação dos dois grandes momentos da obra: fim do sistema escravocrata e o momento que retrata as heranças socioeconômicas que, até hoje, representam grandes barreiras às populações afetadas, como o racismo estrutural.
Além disso, a Fuvest também pode abordar questões relativas às retratações das tradições culturais regionais no romance, como pela alimentação, a vivência da população rural, o folclore (especialmente com a lenda da Mãe de Ouro) e a linguagem dialetal interiorana, como por ditados populares e itens lexicais próprios da região.
Esses aspectos podem exigir reconhecimento em trechos do livro, como pelo título “Água funda”, ou em comparação com outros textos selecionados pela banca.
“A gente passa nesta vida, como canoa em água funda. Passa. A água bole um pouco. E depois não fica mais nada”.
Sobre a autora Ruth Guimarães
Nascida em Cachoeira Paulista, interior de São Paulo, Ruth Guimarães (1920 – 2014) foi uma escritora, tradutora, professora de Português e uma das primeiras autoras negras a ganhar reconhecimento nacional no Brasil, tornando-se membro da Academia Paulista de Letras em 2008.
Bem inserido na terceira fase do modernismo brasileiro, seu trabalho reflete muito o contexto do interior por sua cultura, crendices populares, tradições e folclores, valorizando esses elementos especialmente pela marcação da oralidade.
Todas as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2025 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2025 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2025
- Marília de Dirceu (1792) – Tomás Antônio Gonzaga
- Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
- Os ratos (1944) – Dyonélio Machado
- Alguma poesia (1930) – Carlos Drummond de Andrade
- A Ilustre Casa de Ramires (1900) – Eça de Queirós
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Água Funda (1946) – Ruth Guimarães
- Romanceiro da Inconfidência (1953) – Cecília Meireles
- Dois irmãos (2000) – Milton Hatoum
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
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