A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está Quincas Borba, do escritor Machado de Assis.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova do vestibular de 2025, compilamos um resumo completo sobre o livro de Machado de Assis. Ao final da leitura, confira também a lista completa das leituras obrigatórias selecionadas pela USP, de 2025 a 2029!
Resumo do livro Quincas Borba
O romance “Quincas Borba” foi escrito por Machado de Assis e publicado no ano de 1891. A obra, inserida no movimento literário realista, vale-se de um narrador onisciente para contar a história de Rubião, professor que, após a morte do amigo Quincas Borba, herda toda a sua fortuna – com a condição de que cuide do cachorro do falecido, também chamado Quincas Borba.
Acompanhamos, assim, a história de como Rubião foi da pobreza à riqueza, da riqueza à pobreza – uma vez que, devido a inúmeros acontecimentos, acaba por perder o que herdou do amigo – e da sanidade à loucura.
A história é contada, como dito anteriormente, por um narrador onisciente, isto é, um narrador que tem absoluto conhecimento de tudo que ocorre e de todos os personagens. Ele não é, no entanto, imparcial: ele dialoga com o leitor – inclusive, convida-o, logo no início da história, à leitura de outra famosa obra de Machado de Assis, da qual o personagem Quincas Borba também faz parte – e utiliza grande ironia para descrever determinadas situações e pessoas.
Esses traços constituem marca do próprio autor Machado de Assis em outras produções, principalmente em suas crônicas, nas quais costuma interagir com seu interlocutor e introduzir sua afiada ironia.
O início da história
O livro tem início com Pedro Rubião de Alvarenga – mais conhecido como Rubião -, protagonista da história, já rico e bem de vida em sua casa no bairro Botafogo, no Rio de Janeiro. Somos introduzidos a alguns personagens muito relevantes para a história e em grande parte responsáveis pelo futuro declínio de Rubião: Cristiano de Almeida e Palha e sua esposa, Sofia.
Vemos, nas primeiras páginas, uma breve cena da nova vida de Rubião: em sua grande casa, à janela, de professor à capitalista, apreciava uma bela vista, com um criado para trazer-lhe café. Após esse vislumbre da recém-riqueza do protagonista, o narrador nos leva à explicação de como Rubião chegou onde estava.
O personagem Joaquim Borba dos Santos – Quincas Borba, para os mais próximos – esteve em outra famosa obra de Machado de Assis: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. O narrador nos lembra desse fato e nos mostra como Borba estava à beira da morte em sua casa. A partir daí, compreendemos melhor o que Rubião intencionou ao afirmar que “Se a mana Piedade tem casado com o Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça…”.
Quincas Borba havia se apaixonado pela irmã de Rubião, Maria da Piedade. No entanto, uma relação mais profunda nunca ocorreu, pois Piedade veio a falecer. Esse amor, porém, aproximou Rubião e Borba, que se tornaram amigos. Assim, prestes a morrer, o único herdeiro possível para a fortuna de Quincas foi o amigo, o qual se dispôs a cuidar dele e a acompanhá-lo no leito de morte. Havia, todavia, uma condição: o segundo Quincas Borba, o cão, deveria ficar sob os cuidados de Rubião.
Humanitismo
Nesse início da obra, temos, então, um panorama tanto da vida – e morte – de Quincas Borba quanto da situação de Rubião. Além de aprendermos como a herança foi passada ao protagonista, temos também conhecimento sobre os modos de pensar de Quincas.
Sua filosofia, o Humanitismo – ou Humanitas -, é descrita e pode ser observada nos acontecimentos narrados no decorrer do livro, já que, de acordo com ela, o ser humano é levado a almejar seus próprios interesses acima de qualquer outra coisa, em uma luta pela sobrevivência. Voltaremos a isso posteriormente.
No que tange a Rubião, começamos a conhecer sua vida após a riqueza, esta que se tornou um ponto de virada para ele, tendo em vista que, apesar de lhe trazer conforto, ofereceu-lhe também uma intrincada jornada em um complexo meio social.
A vida em Botafogo
O narrador, indo de relatos trágicos a cômicos, dá continuidade à história de Rubião e de seus relacionamentos com os personagens que o cercavam. Ao longo da narrativa, vemos como Rubião e sua fortuna são sugados por seus conhecidos e como toda a sua trajetória pós-enriquecimento acabou por levá-lo à loucura.
Em sua viagem ao Rio de Janeiro, quando se mudava depois de receber sua herança, ele conhece Cristiano e Sofia, casal ambicioso que, ao tomar conhecimento das posses de Rubião, imediatamente inicia uma amizade por interesses egoístas. Ao longo da narrativa, é possível observar, inclusive, que o próprio Cristiano se aproveita do interesse de Rubião por Sofia para incitar a esposa a ceder às investidas do amigo para que se beneficiassem financeiramente desse relacionamento.
Além do casal, outros se aproveitaram da riqueza e da ingenuidade de Rubião, porém o que fica mais evidente é a extorsão lenta e consistente de Cristiano, que almejava quitar suas inúmeras dívidas e ascender socialmente às custas do protagonista. Eles estabelecem, desse modo, uma parceria, e Cristiano se torna algo próximo a um contador para Rubião.
Chegando ao bairro Botafogo, onde estabeleceria residência, o ex-professor conhece outros personagens importantes em sua história, como Carlos Maria, Freitas e Camacho. Acompanhamos, assim, o percurso de Rubião nesse desconhecido contexto social. O protagonista é inserido em um meio em que se familiariza com intrigas da sociedade abastada – o próprio Rubião acaba por se colocar em uma posição de superioridade, considerando seu novo patamar econômico – e experimenta a ambição e a exploração por parte daqueles que o rodeiam.
A loucura de Rubião
Rubião vai perdendo suas posses como consequência de uma má administração e da exploração por seus conhecidos. Junto a elas, começa também a perder a noção de si, imaginando-se um imperador à frente de um grande exército – o imperador Luís Napoleão.
Contudo, não foi apenas a perda da herança que o levou a esse estado. Em determinado momento da história, Rubião salva um garoto chamado Deolindo. O ex-professor, novo rico, ciente de seu novo status social e agora aclamado pelo seu suposto altruísmo, deixa a vaidade subir à cabeça, o que também impactou seu estado mental.
Além disso, um de seus novos amigos, Carlos Maria, e Sofia demonstravam ter um envolvimento amoroso, embora Carlos acabe se casando com a prima desta, Maria Benedita. Rubião, que já se interessava por Sofia, recebe um golpe – que eventualmente seria duplo, pois descobrimos, seguindo a narrativa, que Cristiano planejava casar Rubião e Maria Benedita.
Esses e outros fatores motivaram, aos poucos, a insanidade do protagonista. Vemos os primeiros traços de sua loucura quando este, o narrador nos informa, ao receber convidados em sua residência, “teve aqui um impulso curioso, — dar-lhes a mão a beijar”, mas que “[reteve-se] a tempo, espantado de si próprio”.
Aumento dos delírios
Eventualmente, a dificuldade de Rubião em discernir realidade e ilusão se intensifica. O personagem se aliena mentalmente, em seu mundo imaginário, e tudo isso traz consequências irreversíveis para o homem. O Humanitismo, filosofia do amigo Quincas Borba, foi seguido também por Rubião e constatado por este ao seu redor.
Quincas afirmava que “não há morte, há vida, porque a supressão de uma é a condição da sobrevivência da outra”. Dessa maneira, no processo descrito pelo filósofo, a morte não se mostrava relevante, uma vez que dava origem à sobrevivência de outro, prevalecendo os interesses daquele que sobreviveu.
Assim, a morte de Quincas foi a condição de sobrevivência de Rubião, o qual percebia que seus conhecidos buscavam torná-lo a condição de sobrevivência deles, mediante sua fortuna. A busca por interesses próprios fica evidente para o leitor e para o próprio protagonista, que foge para dentro de si buscando se afastar dessa realidade.
‘Ao vencedor, as batatas’
A intensificação dos delírios de Rubião levou à sua internação. Seus antigos amigos já não se importavam mais com ele, pois haviam alcançado o que almejavam. Após alguns meses, um pouco mais estabilizado, o ex-professor consegue fugir da casa de saúde em que estava, levando consigo o cão Quincas Borba, e vai à cidade de Barbacena. Entretanto, não possuía perspectiva de como prosseguir.
Esperou nas ruas, sob a chuva da cidade, e se lembrou de umas das frases adotadas pelo falecido amigo em sua filosofia: “ao vencedor, as batatas”. A afirmação fazia parte de uma ilustração feita por Quincas Borba para explicar sua linha de pensamento. Ela retoma o Humanitas e toda a construção da vida do protagonista até aquele momento:
“Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas.”.
Posteriormente, Rubião é acolhido por sua comadre. No entanto, estava com febre e permanecia em sua ilusão de ser um grande imperador, como ficou até a morte, quando afirmou “— Guardem a minha coroa — murmurou. — Ao vencedor…”.
Três dias depois, o cachorro Quincas Borba também encontrou um trágico fim, doente e à procura do dono. O cão foi, assim, a condição de sua riqueza e, ao fim, tudo que restou a Rubião.
Onde encontrar o livro completo?
A obra foi disponibilizada na íntegra pela USP para consulta dos candidatos no site oficial da universidade. Confira!
Como o livro poderá ser cobrado na Fuvest?
Trata-se de uma obra com várias camadas e aspectos relevantes que poderiam ser analisados e cobrados no vestibular. Em primeiro lugar, o próprio caráter psicológico da narrativa tem destaque. Poderiam ser trabalhadas a transformação à qual Rubião foi submetido e o efeito que a filosofia Humanitas exerceu sobre ele, assim como sua insanidade final.
A influência do movimento realista no romance também seria um tópico pertinente de análise. Além disso, toda a crítica à sociedade da época e à superficialidade das relações poderia ser abordada, com foco na questão do materialismo, da incessante busca por riquezas e até mesmo do uso do amor como instrumento de exploração.
Os aspectos filosóficos trabalhados por Machado de Assis e as referências utilizadas pelo autor constituem um rico objeto de estudo, assim como a construção da narrativa e os variados recursos linguísticos utilizados e bem arquitetados por ele. Seria interessante refletir também sobre o simbolismo trazido pelo cão Quincas Borba na obra e sobre se a própria generosidade de Rubião ao cuidar do amigo em seu leito de morte manifestava a essência da filosofia do Humanitismo – já havia interesse ali?
Sobre o autor Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis foi um jornalista, cronista, romancista, contista, poeta e teatrólogo nascido no Rio de Janeiro em 1839. Filho de Francisco José de Assis e de Maria Leopoldina Machado de Assis, o autor estabeleceu seu legado na literatura brasileira e é considerado um dos maiores escritores da história e o mais importante escritor do Brasil.
Um dos poucos homens negros reconhecidos e prestigiados por sua obra no século XIX, Machado de Assis foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e ocupou a presidência da Academia por mais de 10 anos, a qual passou a ser conhecida como a “Casa de Machado de Assis”. O autor faleceu no Rio de Janeiro, em 1908.
Durante sua infância, sem condições financeiras para manter os cursos regulares da época, deu continuidade aos estudos da forma que encontrou e publicou, aos 14 anos, seu primeiro trabalho no Periódico dos Pobres, um soneto intitulado “À Ilma. Sra. D.P.J.A.”.
Após dois anos, iniciou-se na profissão de aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, onde foi apadrinhado por Manuel Antônio de Almeida, escritor e professor. Ao longo do tempo, trabalhou também como revisor em outros locais e passou a escrever regularmente para variadas revistas.
Escolas literárias e principais obras
Machado de Assis foi um escritor versátil e se aventurou em diversos gêneros literários, explorando características do Romantismo e do Realismo. Seu primeiro romance, chamado “Ressurreição”, foi publicado em 1872.
Em 1881, nasceu uma das obras mais emblemáticas do autor, intitulada “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Outras de suas principais produções são “Casa Velha”, “Dom Casmurro” e “Quincas Borba”.
No campo dos versos, um de seus poemas mais conhecidos é o soneto “Carolina”, redigido em homenagem à esposa, Carolina Augusta Xavier de Novais.
Todas as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2025 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2025 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2025
- Marília de Dirceu (1792) – Tomás Antônio Gonzaga
- Quincas Borba (1891) – Machado de Assis
- Os Ratos (1944) – Dyonélio Machado
- Alguma poesia (1930) – Carlos Drummond de Andrade
- A Ilustre Casa de Ramires (1900) – Eça de Queirós
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Água Funda (1946) – Ruth Guimarães
- Romanceiro da Inconfidência (1953) – Cecília Meireles
- Dois irmãos (2000) – Milton Hatoum
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
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