Pedagogia: Além do bê-a-bá

 

Mais de 600 mil estudantes em todo o país estão em formação para se tornarem pedagogos. O curso é o terceiro com mais alunos matriculados, segundo o Censo da Educação Superior de 2012. De maneira geral, o profissional atua como professor na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, além de transitar nas áreas de gestão, orientação, coordenação e supervisão escolar.pedagogia

Para saber mais sobre a profissão e o mercado de trabalho, conversamos com a pedagoga Flaviana de Carvalho, de 28 anos. Natural de Imperatriz (MA), ela atua há sete anos na área e, hoje, integra a equipe da Educação Infantil da rede pública do município, além de ser professora substituta na Universidade Estadual do Maranhão.

Flaviana também fala sobre os desafios da carreira e  enfatiza que, acima da vocação, os professores são profissionais que passam por um processo de formação como em qualquer área. Confira!

QG –  Por que você optou pela carreira de pedagoga?

Flaviana Carvalho (FC) – Houve, sem dúvida, a influência de minha mãe, professora há mais de 20 anos. Embora ela sempre tenha me deixado livre para escolher, acredito que seu exemplo, o contato que tive desde muito cedo com o ambiente escolar, viver cercada de livros e do discurso e práticas pedagógicas, fizeram com que eu tivesse muita clareza sobre a minha escolha.

QG – Na prática, qual a principal diferença entre o pedagogo e o professor formado em área específica, como História, por exemplo?

FC – A licenciatura plena em pedagogia nos permite lecionar na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano). Considerando o atual currículo adotado no país, pressupõe uma globalidade. O pedagogo-professor trabalha todas as áreas (ciências e linguagens). Já o docente com licenciatura em área específicas atua no ensino fundamental maior (6º ao 9º ano) e ensino médio.

QG – O estudante que pensa em ingressar no curso de pedagogia precisa ter quais características?

FC – Acredito muito na profissionalização do professor. Tornar-se professor não pressupõe outras características que não sejam aquelas necessárias a qualquer cidadão: ética e compromisso político com um projeto de homem e de sociedade. Além disso, torna-se necessário a todo candidato à pedagogia gostar de ler – o que deveria ser pré-requisito a qualquer área – e de questionar a realidade. Penso que essas e outras características como organização, planejamento e trabalho em equipe, se ainda não plenamente alcançadas, podem ser aprimoradas ao longo da formação e da própria carreira.

QG – Na tua opinião, quais os principais desafios da profissão?

FC – Nossos grandes desafios são, ainda, os baixos salários, más condições de infraestrutura e a desvalorização da profissão, que inclui os dois itens anteriores, mas envolve outras questões. Uma delas é o falso prestígio perante a sociedade. Todo mundo fala sobre a importância dos professores para a construção de uma sociedade melhor, mas, na prática, somos vistos muito mais como vocacionados, quando, na verdade, passamos por um processo de formação como em qualquer outra área.

Em relação aos baixos salários, hoje existe a lei federal n° 11.738, que garante um piso salarial aos professores, mas isso apenas corrige uma defasagem muito grande que existia, especialmente em regiões periféricas do país, entre os salários dos professores.

Do ponto de vista das condições de trabalho, a carga horária, por exemplo, de um professor-pedagogo era muito extensa em sala de aula. Com a lei, essa carga horária é reduzida, proporcionando maiores possibilidades de planejamento e organização do trabalho pedagógico. Ainda nessa dimensão das condições, infelizmente, a infraestrutura de muitas escolas é muito precária.

QG – Qual a tua visão sobre o mercado de trabalho atualmente?

FC – Apesar dos desafios da área, trata-se de uma atividade que não sai de moda e que possui grande oferta. Mesmo em tempos de crise, os professores são sempre necessários. Há um paradigma e por algum tempo se pensou que, com as novas tecnologias da comunicação e da informação, os professores se tornariam obsoletos. No entanto, com a chegada de todo esse aparato tecnológico, surgem outras necessidades educacionais que pressupõem o professor.  Educação não é só fornecer informações. Isso as mídias já cumprem bem. O processo educativo passa pela apropriação da cultura historicamente construída pela humanidade, implica modos de ser e conviver em sociedade.

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