O estudo de demografia por parte da Geografia sempre realizou diálogos com a ciência histórica para completar a interpretação a respeito das dinâmicas internas da população brasileira, conectadas com acontecimentos políticos, econômicos e sociais. Com isso, nosso objetivo hoje será tratar sobre o contexto brasileiro da década de 1950 e como este impactou fluxos de migrações no país.
A década de 1950 é marcada por dois governos republicanos durante o chamado Intervalo Democrático Brasileiro (1945 – 1964), o de Vargas e de JK. No entanto, nossa análise ficará retida neste último, para entender as transformações econômicas e seus impactos em fluxos migratórios.
Juscelino Kubitschek sintetiza seu projeto político no chamado “Plano de Metas”, que consistia uma série de objetivos a serem alcançados em 5 anos a fim de promover o desenvolvimento do parque industrial brasileiro e a integração nacional. Com isso, uma meta deveria operar como a síntese de todas as outras: a construção de Brasília.
Levar a capital para Brasília também tinha como objetivo integrar o território a partir da construção de rodovias que conectassem os cantos do país com o interior, ou seja, favorecer a integração a partir da interiorização. Nesse sentido, a construção da cidade modelo também vai gerar um fluxo de migrações considerável, dos chamados candangos, de trabalhadores e famílias que participaram do processo de formação daquela urbe.
No entanto, o desenvolvimento do parque industrial não ocorreu de maneira homogênea em termos regionais. O eixo sul-sudeste atraiu mais investimentos externos e deu um salto tecnológico desproporcional às regiões Norte e Nordeste.
A criação da SUDENE – Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – não conseguiu atrair tantos investimentos para a região como se propunha. Com isso, um cenário passava a ser desenhado no que se refere às dinâmicas internas da demografia brasileira, que iriam inclusive ser herdadas para as décadas seguintes.
As migrações em direção ao sul-sudeste, principalmente das regiões norte-nordeste, ganhou muito volume como um meio daquelas pessoas de conseguirem novas oportunidades de emprego e renda. Esse fluxo vai se somar a outros constantes de fuga da seca dos sertões nordestinos.
Esses movimentos modificaram o próprio espaço urbano do eixo sul-sudeste. O volume dessas migrações foi tão alto que as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro não conseguiram ter uma logística habitacional para acolher essas pessoas. O processo de favelização nasce de maneira mais profunda como consequência dessa urbanização massiva e não planejada.
Ademais, outras consequências vão se apresentar como frutos desse processo: aumento da violência urbana, especulação imobiliária, aumento da degradação de serviços básicos etc. No entanto, também é importante ressaltar os reflexos culturais desse processo. Tradições nordestinas e nortistas transformaram a identidade dessas cidades em diversos âmbitos: religião, culinária, linguística, festividades, entre diversos outros.
Por fim, vale ressaltar que fluxos de migrações, como vistos, não são fatores isolados e alheios às transformações do contexto de época. Análises históricas, geográficas e culturais da Sociologia, por exemplo, são fundamentais para compreender a dimensão desses processos.
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