O estudo a respeito da história indígena e até mesmo da atualidade desses povos ainda é uma temática muito escassa na educação nacional. Quando mencionamos termos como “extermínio de povos indígenas”, muitos associam essa problemática ao período colonial, mas ignora-se, em grande parte, que essa questão indígena é muito atual. Além das disputas políticas envolvendo o tema, o atual cenário impõe um novo drama para esses povos: o alastramento da pandemia da COVID-19.
Segundo o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena, atualmente, mais de 300 indígenas já morreram devido à COVID-19. O contágio pela doença é muitas vezes propiciado pela invasão de garimpeiros ilegais nas terras protegidas de certas comunidades que levam consigo o vírus, como já denunciado pelo povo Yanomami, por exemplo.
Outra fonte de contágio é o próprio convívio em certos centros urbanos locais. Alguns povos se valem do comércio local para sobrevivência, o que também implica certa interação com a população da cidade e consequente risco de contágio. Quando alguns desses indivíduos retornam as suas aldeias, podem carregar consigo o vírus e assim espalhar a doença naquela comunidade.
Esse risco de contágio devido ao contato com a população local fez, inclusive, alguns povos se isolarem no interior de matas, como o caso da aldeia Cruzeirinho no Amazonas. Com isso, levanta-se mais uma problemática que é a desconexão desse povo com seu lugar. O sentimento de pertencimento de certa aldeia depende da sua relação com o ambiente costumeiro ao seu redor. Ter que abandonar o local de assentamento muitas vezes apresenta-se como uma tragédia muito grande para esses povos.
Além desses pontos, já falando sobre a maior tragédia em si do alastramento da COVID-19 que é a morte do paciente, o simbolismo da morte para esses povos indígenas tem um peso muito significativo. Como, na maioria das vezes, o conhecimento, os cultos, os rituais e os saberes são perpassados de maneira oral, uma comunidade perder um ancião também representa perder uma fonte de sabedoria. Ou seja, perder um dos pilares daquele povo.
Enfim, esses e diversos outros pontos – como a saturação da rede de atendimento e saúde local – aumentam ainda mais o drama do atual cenário de COVID-19 para os povos indígenas. Recentemente, o caso das mães Yanomamis reivindicando os corpos falecidos de seus bebês chocou o Brasil, e representa apenas um momento dessa tragédia nacional envolvendo a pandemia e a questão indígena.
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