Rosalind Franklin e a descoberta do modelo de DNA.

Rosalind Franklin

Até os dias atuais, muitas mulheres são menosprezadas em seus respectivos trabalhos, ganhando menos, não sendo ouvidas e muitas vezes sem levar crédito pelo que fizeram. Na história da ciência, existem diversas mulheres que não tiveram seu nome mencionado em trabalhos, pesquisas e descobertas, sendo desde a antiguidade completamente desvalorizadas. Uma delas foi Rosalind Franklin, e já passou da hora de contar a sua história.

Quem foi Rosalind Franklin?

Rosalind Elsie Franklin nasceu em Londres em 1920. Ela estudou em uma escola para garotas em Londres que ensinava física e química. Rosalind queria ser cientista desde que era uma adolescente, e teve essa certeza quando tinha 15 anos. Tal carreira que não era fácil ou comum para as garotas nessa época. Entretanto, ela foi a fundo mesmo assim e nada a impediu de ir atrás do seu sonho. Franklin ganhou uma bolsa para faculdade de Cambridge para estudar química, onde ela fez seu pós doutorado, promoveu pesquisas importantes sobre o carbono e a macroestrutura do grafite, e mais tarde conduziu sua pesquisa para estrutura do carvão que levou à melhores máscaras de gás para o Reino Unido durante a segunda guerra mundial.

Rosalind Franklin

Rosalind e o modelo de DNA:

Depois que Franklin saiu de Cambridge, passou 3 anos em Paris pesquisando técnicas de difração de raio-X. Em 1951 ela juntou-se ao King’s College para usar técnicas de Raio-X para estudar a estrutura do DNA, que nessa época era um dos assuntos mais pesquisados e falados sobre na ciência. Franklin melhorou o laboratório de Raio-x e começou seus trabalhos, iluminando raios-x de alta energia em pequenos cristais úmidos de DNA.

  • O machismo, Rosalind e Wilkins: 

A cultura acadêmica daquela época não era muito simpática com mulheres, e Franklin sofreu muito com isso, sendo diversas vezes isolada pelos seus colegas. Inclusive, foi lá que ela conheceu Maurice Wilkins, que assim como ela, liderava um grupo de pesquisa sobre o DNA. Quando Randall passou a Rosalind o seu projeto, Wilkins estava fora do laboratório, e quando retornou, pensou que ela era apenas uma assistente técnica. Em cartas reveladas, que teriam sido trocadas por Wilkins e Franklin, é evidente o desprezo que ele sentia por ela e a forma machista como ele a tratava, chegando até mesmo a chamá-la de bruxa.

  • A Photo 51: 

Mesmo com todo o machismo, Rosalind não deixou que nada a abalasse e continuou trabalhando arduamente em suas pesquisas. Até que em 1952, Franklin conseguiu a Photo 51, que é a imagem mais famosa do DNA, feita por difração do raio-X. Obter essa foto levou 100 horas e os cálculos necessários para analisá-la levaria 1 ano.

  • Watson e Crick: 

Nessa época, Wilkins e Rosalind não eram os únicos interessados no modelo de DNA, e é aí que entram dois personagens importantes para essa história, que são os famosos Watson e Crick. O biólogo americano James Watson e o físico britânico Francis Crick também estavam tentando descobrir a estrutura do DNA, entretanto, em dezembro de 1951, eles apresentaram um modelo de tripla hélice para Wilkins e Rosalind, e imediatamente Rosalind Franklin identificou os erros, e viu que a estrutura não era compatível com as difrações obtidas por ela. Dessa forma, Watson e Crick foram proibidos de trabalhar com DNA, e foi só quando Linus Pauling (um dos cientistas mais famosos na época) mostrou interesse no DNA, que eles conseguiram permissão novamente.

  • O roubo e as versões da história: 

A Photo 51, capturada por Rosalind Franklin, foi vista por Watson e Crick, sem o consentimento e até mesmo sem ela saber (e morreu sem ter nem ideia da situação). Esse roubo de fato aconteceu, mas existem duas versões dessa história:

  1. Sem a autorização e conhecimento de Franklin, Wilkins pegou a Photo 51 e mostrou para Watson e Crick. Ao invés de calcular a exata posição de cada átomo, eles fizeram uma rápida análise dos dados de Franklin e os usaram para montar potenciais estruturas. Eventualmente, eles chegaram a certa, que hoje conhecemos.
    Watson e Crick publicaram o modelo em abril de 1953. Enquanto isso, Franklin tinha terminado seus cálculos e chegado a mesma conclusão, produzindo seu próprio manuscrito, o Jornal publicou ambos manuscritos juntos, porém publicou o da Franklin por último, fazendo parecer com que a seus experimentos e descoberta fosse apenas uma confirmação do avanço de Watson e Crick, ao invés da realidade, que é que o inspirou.
  2. Franklin, possuia a Photo 51 e não conseguia chegar a uma estrutura, isso durante 9 mêses. Com isso, um aluno dela pegou a fotografia, sem sua permissão e ciência, e a mostrou para Wilkins, que logo em seguida a mostrou para Watson e Crick. Rosalind não desistiu de seus cálculos e estava quase chegando a estrutura correta, quando foi publicado em abril de 1953, o modelo de DNA de Watson e Crick, e ela simplesmente parou de pesquisar sobre.
  • Reconhecimento póstumo: 

Rosalind Franklin morreu em 1958, com 38 anos, de câncer no ovário, e muito provavelmente por ter se exposto a tanta radiação em suas pesquisas. Ela morreu sem reconhecimento e sem saber que Watson e Crick tinham visto sua fotografia. Em 1962, Watson, Crick e Wilkins ganharam o prêmio Nobel. A comunidade científica somente passou a reconhecer Rosalind, quando Watson acabou revelando em seu livro a participação dela (o que fez que muitos duvidassem do mérito dos três) e depois foram também reveladas cartas entre o trio em que eles mencionavam que sem a foto obtida por ela, eles não teriam conseguido. Em diversas entrevistas, Watson afirmou que Rosalind nunca teria conseguido sozinha, e que a ajuda deles foi essencial para a descoberta. John Finck e Aaron Klug, publicaram um arigo de investigação na revista Nature sobre ela, como homenagem.

É comumente dito que Rosalind teria ganho dois prêmios Nobel, porque ela também trabalhou na estrutura do vírus, mas no meio de sua pesquisa ela morreu, e foi continuada pelo seu colega Aaron Klug, que ganhou o Nobel em 1982.

Está na hora, mais do que na hora, já passou da hora, de contar a história de uma mulher incrível, que encarou o machismo, que nunca abaixou a cabeça, que fez descobertas importantes para a medicina, biologia, química e agricultura. Ela morreu sem ser reconhecida pelo seu trabalho, mas o mundo deve esses créditos a ela. Precisamos falar sobre Rosalind Elsie Franklin. 

´´A ciência, para mim, explica parte da vida. Até onde chega, se baseia em acontecimentos, experiência e experimentos.“

-Rosalind Franklin.

Para ler mais e acompanhar mulheres na ciência, clique aqui.

Gostou da matéria, clique aqui para ler mais do nosso blog.

 

Compartilhar

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin
Compartilhar no email
Compartilhar no whatsapp