Sendo considerada uma das distopias mais importantes da literatura mundial, “1984” de George Orwell não se limita apenas ao mundo dos livros, mas também estende sua história pelo mundo real. Pensando nisso, nós do QG elaboramos uma matéria sobre “1984” e os reality shows! Confira:
“1984” se trata de uma distopia ambientada no mundo fictício de Oceania, onde a sociedade é governada de maneira totalitária pelo “Grande Irmão”, uma figura que sintetiza seu poder através de câmeras de vigilância. Estas câmeras observam os cidadãos de Oceania 24 horas por dia, até mesmo dentro de suas casas, característica que converge diretamente à teoria do Panóptico, proposta por Foucault, que fala do poder por meio da vigilância total do homem.
Nesse sentido, a narrativa da obra traz como personagem principal o funcionário público Winston, que trabalha no “Ministério da Verdade”, um órgão responsável por “mudar” o passado. Isso significa que Winston trabalha eliminando qualquer prova de que o Grande Irmão possa estar errado, seja na imprensa, seja em livros ou qualquer outro lugar. Desse modo, se o Grande Irmão afirma que hoje o preço da carne é x e do arroz é y, e amanhã o preço de ambos já são z e w, Winston adultera os documentos para provar que o preço da carne e do arroz sempre foram z e w. Assim, o funcionário público começa a se questionar se o trabalho que ele está exercendo é realmente correto ou não, desencadeando dessa forma, uma série de acontecimentos.
Mas afinal o que tudo isso tem a ver com reality shows?
Praticamente todos nós conhecemos pelo menos um reality show, e todos nós sabemos basicamente a dinâmica que rola nesses programas né? Talvez o programa mais famoso desse gênero, no Brasil, seja o BBB (Big Brother Brasil), que além de se tratar de uma casa com um grupo de desconhecidos sendo vigiados 24 horas por dia, ainda recebe o mesmo nome do governador totalitário de “1984”. Nesse sentido, muitos outros realities foram se popularizando na mídia, nos fazendo refletir novamente a respeito da literatura. Na obra de Orwell, a super vigilância faz com que as pessoas percam suas identidades e comecem a se comportar de forma mecânica e não natural, da mesma forma que muitos participantes agem nesses programas. Isso porque é notável que diversos comportamentos são condenados ou aplaudidos pelo público, que também detém o poder de definir quem merecer ser o vitorioso. Assim, tornando-se necessário cada vez mais se enquadrar em um determinado padrão comportamental.
Além disso, vale ressaltar que o confinamento também faz com que os participantes não tenham noção do que verdadeiramente se passa no mundo, mas quem está assistindo sim. Então por que concentrar toda sua atenção a programas que nos vigiam 24 horas por dia? Talvez uma explicação para isto esteja no conceito sociológico de sociedade do espetáculo, já que somos expostos cotidianamente a conteúdos midiáticos que buscam a falsificação da vida comum, e consequentemente a alienação.
Por fim, é importante lembrar que cada um consome produtos midiáticos que considera interessante, e que reality shows não são monstros da mídia, mas sim programas que são passíveis de muitas reflexões. O importante é ter equilíbrio!