Redação para o ENEM: Mapa do Erro

Por mais que haja critérios orientando a correção do avaliador em qualquer que seja a Banca, nenhum texto é tratado de forma tão autônoma a ponto de não haver influência de percepção motivada pela comparação a outros textos. Em um cenário como esse, prevenir-se quanto a erros frequentemente cometidos por outros candidatos pode garantir uma obra que chame a atenção não só por seus acertos originais, mas também por não cometer desvios tão comuns.

Com o passar dos anos e, junto a eles, das avaliações, consegue-se minimamente construir o que poderíamos chamar de “mapa do erro”, em que se listam os principais desvios em dissertação argumentativa, a fim de que, na produção ou mesmo na revisão textual, o candidato esteja mais atento a uma maior chance de cometê-los e, assim, evitá-los.

  Competência 1

a) Crase

O que mais tem chamado a atenção quanto ao erro no uso do acento grave, contrariando o que ocorre em outros aspectos gramaticais, é a ocorrência de um fenômeno conhecido como hipercorreção, que consiste em, devido ao receio de se contrariar o que a Norma exige, fazer mais do que o exigido pelas regras. No caso da Crase em especial, usar o acento grave em contextos nos quais, na verdade, seu uso é condenado, principalmente diante de verbos ou palavras femininas que, apesar do gênero, não aceitam o acento grave anteposto, como, por exemplo, “ela”.

 b) Concordância

Quanto à Concordância Nominal, não têm sido tão volumosos os problemas observados em correção. No que se refere à Verbal, entretanto, os desvios aumentam, o que se agrava devido ao fato de se tratar de um desvio nem sempre tão claro de ser descoberto em revisões do texto.

O fato de o candidato optar pela inversão da ordem direta de certas orações explica muitos dos desvios gramaticais cometidos em redação, já que, como o Sujeito sai de sua posição original, aumenta a tendência de ser ignorado na escolha da conjugação verbal.

Ex. São necessárias mudanças urgentes. (Certo)

É necessário mudanças urgentes. (Errado)

Outro fator que tem provocado erros constantes ainda em Concordância Verbal é a presença de um termo entre Sujeito e verbo correspondente, tirando muitas vezes do candidato, numa observação mais rápida, a percepção de que deveria ter feito a correlação de gênero e número entre essas duas estruturas.

Ex. O Estado, diante de escândalos de corrupção de que participam importantes empresas, precisa atuar prontamente. (Certo)

O Estado, diante de escândalos de corrupção de que participam importantes empresas, precisam atuar prontamente. (Errado)

c) Regência

Alguns verbos, pelo fato de contarem com mais de uma regência, confundem os candidatos quanto ao uso, provocando inclusive significados involuntários, chegando a comprometer, dessa forma, mais do que a gramática: o efeito chega à coerência do texto.

Ex. Assisto ao jogo com meu pai. (Sentido de ver, mais tradicional no contexto da frase em questão)

Assisto o jogo com meu pai. (Sentido de ajudar, normalmente involuntário no contexto da frase em questão, porém não necessariamente equivocado, gerando provavelmente incoerência)

 d) Colocação Pronominal

A norma gramatical deriva de um uso do Português prioritariamente europeu num primeiro momento e, mesmo com a evolução das regras e uma constante adaptação ao nosso contexto linguístico, algumas imposições permanecem, como o uso dos pronomes oblíquos predominantemente posteriores ao verbo em Portugal (Ênclise) e principalmente anteriores no Brasil (Próclise).

Talvez esse processo explique a expressiva quantidade de próclises em inícios de frase ou posteriores a pontuações de pausa, estruturas condenadas gramaticalmente.

Ex. Produzem-se novos caminhos de resolução diariamente. (Certo)

Se produzem novos caminhos de resolução diariamente. (Errado)

Os cidadãos, conscientizando-se de seus deveres, surgem como elementos atuantes. (Certo)

   Os cidadãos, se conscientizando de seus deveres, surgem como elementos atuantes. (Errado)

 e) Pontuação

Com a evolução do texto escrito como estrutura linguística, sinais de pontuação que um dia já foram marcas respiratórias hoje se tornaram organizadores imprescindíveis de períodos e parágrafos. Muitos candidatos, entretanto, ainda optam por fazer de vírgulas e outros sinais elementos marcadores de ênfases e pausas, comprometendo seriamente bases gramaticais.

Ex. Setores da iniciativa privada fortalecem a economia quando em parceria com o Estado. (Certo)

Setores da iniciativa privada, fortalecem a economia quando em parceria com o Estado. (Errado)

Setores da iniciativa privada fortalecem, a economia quando em parceria com o Estado. (Errado)

 Competência 2

a) Tangenciamento do tema

Priorizar a análise parcial do tema, ignorando eixos fundamentais de discussão (palavras-chave), provoca perda frequente de ponto em redações Enem.

 b) Inconveniência transdisciplinar

Por mais que se queira obedecer a regras que exigem conteúdos programáticos escolares, muitas vezes itens incompatíveis com o tema aparecem em meio à argumentação, provocando um enfraquecimento na sustentação de posicionamentos.

 c) Desvio de tipologia textual predominante

Na tentativa de se criarem ilustrações para exemplificar argumentos ou teses, é comum exceder a proporção de descrição e narração como estratégias de apoio à dissertação, ocupando às vezes parágrafos inteiros com tipos textuais, portanto, não solicitados pela Banca.

 Competência 3

a) Contradição

Falha grave num texto que se pretende argumentativo, candidatos eventualmente mudam de opinião ao longo do texto ou oferecem exceções que equivalem em peso ao posicionamento que se pretendia defender, gerando um efeito que tradicionalmente ficou conhecido como “em cima do muro”.

 b) Inconsistência teórica

Na busca por sustentar mais solidamente tese e argumentos, surgem dados equivocados ou carentes de comprovação, o que, quando percebido pelo avaliador, pode causar perda de credibilidade e, consequentemente, qualidade final.

Competência 4

a) Repetição vocabular

Mostra-se muito frequente a utilização de uma mesma palavra em várias ocasiões próximas, comprometendo a progressividade do texto e a percepção do avaliador quanto à capacidade vocabular do candidato.

 b) Falha de referenciação

Involuntariamente, candidatos provocam ambiguidade ou esvaziamento semântico em termos que serviriam de retomada ou antecipação de outros vocábulos.

Ex. A utilização de expressões como “Diante disso” em parágrafos como o de Conclusão podem fazem com que o avaliador, diante de tantas informações em trechos anteriores, não seja capaz de entender o que se pretende retomar com o pronome demonstrativo.

 c) Incoerência em conectores

Conjunções que, contextualmente, têm seu sentido original invalidado comprometem a qualidade textual. Conseguem até estabelecer processos coesivos, mas prejudicam incrivelmente a coerência do que se pretende afirmar.

Ex. “porém”, “todavia” ou “contudo” ligando orações que não se opõem reciprocamente.

 Competência 5

a) Utopia de intervenção

Por melhores que sejam as intenções do candidato de resolver problemas brasileiros históricos, sugestões de soluções “incontestáveis” para graves transtornos comumente propostos pela Banca Avaliadora enfraquecem a capacidade argumentativa textual.

Ex. As pessoas devem se conscientizar de que seu papel no crescimento do país é inegável. (Atribuir ao livre-arbítrio dos cidadãos a iniciativa de mudança de atitude leva a proposta de solução a um plano ideal totalmente incompatível com um texto que se pretende técnico)

 b) Ausência do agente

É bastante comum nas dissertações a omissão da origem da iniciativa da proposta de intervenção. Atribuir a responsabilidade da solução proposta a elementos sociais em especial aumenta a qualidade do texto como um todo.

Ex. Iniciativa privada, ONG’s, Estado, instituições escolares, cidadãos comuns.

 c) Desrespeito a direitos humanos

Compromete propostas de intervenção certos radicalismos que ferem princípios básicos de cidadania e dignidade pessoais.

Ex. Uso da violência e constrangimento social como estratégias de punição civil.

 

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