Se você está se preparando para a Fuvest, já deve saber que as leituras obrigatórias representam partes cruciais da prova, e para além dos textos, conhecer os autores desses livros poderá te ajudar a entender melhor cada produção. Pensando nisso, para enriquecer os seus estudos, preparamos uma biografia de Júlia Lopes de Almeida, incluindo principais trabalhos e curiosidades. Ela escreveu a obra “Memórias de Martha”, que está entre as leituras obrigatórias da Fuvest e do Vestibular Seriado da UFMG.
Ao final da leitura, confira também a lista completa dos livros selecionados pela USP, que serão cobrados nos vestibulares 2026 a 2029, e as obras obrigatórias da primeira edição do vestibular seriado da UFMG!
Júlia Lopes de Almeida: vida e obra
A escritora e jornalista Júlia Lopes de Almeida nasceu no Rio de Janeiro em 1862, no dia 24 de setembro. É filha de pais portugueses – Adelina Pereira Lopes e Valentim José da Silveira Lopes – , os quais vieram para o Brasil na década de 1850 e estruturaram uma instituição de ensino na cidade de Macaé. Mais tarde, em 1860, mudaram-se para o Rio de Janeiro e, alguns anos depois, para Nova Friburgo, local em que Júlia viveu o início de sua vida.
Aos sete anos de idade, Júlia, junto à família, mudou-se para Campinas, São Paulo, onde viveram até o ano de 1885. Em 1875, a escritora visitou Portugal, lugar em que posteriormente estabeleceria residência durante algum tempo. Júlia Lopes foi apoiada, ao longo de sua educação, pela família no exercício da escrita. Ela não frequentou colégios regulares; em vez disso, foi educada em casa, por sua irmã Adelina Lopes Vieira, também escritora, por seus pais e por professores particulares.
Trabalho jornalístico
O trabalho jornalístico de Júlia iniciou-se quando a escritora estava em seus 19 anos de idade. Com o apoio do pai, Júlia escrevia para A Gazeta de Campinas, jornal em que publicou seu primeiro artigo, intitulado “Gemma Cuniberti”, em 1881. Três anos mais tarde, em 1884, o jornal O Paiz estreou a autora como cronista em suas páginas, e nesse espaço Júlia enfatizou sua defesa à emancipação feminina e aos direitos da mulher. Em 1886, Júlia Lopes mudou-se para Portugal e lá publicou seu primeiro livro, “Contos infantis”, em conjunto com sua irmã, Adelina.
Em Portugal, Júlia casou-se com o poeta português Filinto de Almeida, com o qual teve seis filhos. Em 1887, ano de seu casamento, a autora publicou seu primeiro livro de contos, de nome “Traços e iluminuras”. O trabalho jornalístico da autora se estendeu também em Portugal, durante o tempo em que residiu no país. Júlia e seu marido, em 1888, viajaram ao Brasil, morando no Rio de Janeiro por um breve período. Mudaram-se para São Paulo um ano depois, mas, em 1895, retornaram ao Rio de Janeiro.
Júlia trabalhou em diversos periódicos no decorrer do tempo, tratando de assuntos extremamente relevantes e progressistas, como a necessidade de abolição da escravidão e a defesa à educação feminina. O romance “A família Medeiros” foi, em um primeiro momento, publicado em formato de folhetim no jornal Gazeta de Notícias, em 1891, e, no ano seguinte, foi lançado como livro.
Participação na criação da ABL
A escritora Júlia Lopes de Almeida teve também grande participação na criação da Academia Brasileira de Letras, embora não tenha recebido o merecido reconhecimento por isso. Júlia foi a única mulher dentro do seleto grupo de intelectuais que iniciaram o planejamento da Academia, fundada em 1897, e era de se esperar que a relevância da autora para o projeto a garantisse uma cadeira na ABL.
No entanto, a ausência de mulheres na Academia Francesa, utilizada como base para a ABL, foi a justificativa dada pelos intelectuais da época que não aceitaram Júlia na Academia. No lugar da autora, seu marido, Filinto, ocupou a cadeira de número 3 na ABL. Foi apenas no ano de 1977 que uma mulher foi aceita na Academia: a escritora Rachel de Queiroz. Filinto, em sua posição na ABL, manteve seu discurso de que quem deveria estar ali era Júlia, e não ele.
Até 1925, quando se mudou para a França, o casal recebeu intelectuais, tanto brasileiros quanto estrangeiros, em sua casa para discussões literárias. Nomeado de “Salão Verde”, esse espaço foi aberto também às mulheres, as quais eram ignoradas em convenções semelhantes à época. Júlia foi uma das vozes mais proeminentes em defesa dos direitos da mulher no Brasil, fazendo parte da criação da Legião da Mulher Brasileira e debatendo sobre a relevância da educação feminina em diferentes congressos. Em 30 de maio de 1934, a escritora faleceu, no Rio de Janeiro, vítima de uma doença.
Principais obras de Júlia Lopes de Almeida
Júlia Lopes de Almeida transitou, em suas obras, entre os movimentos realista e naturalista. Desse modo, seus escritos são marcados por um caráter objetivo e crítico à sociedade, assim como pela utilização de teorias científicas e a influência do contexto ao qual pertencem os personagens para a análise do comportamento destes. Ao longo de sua vida, a autora redigiu diversas e relevantes obras, incluindo romances, contos e peças teatrais.
O primeiro livro de Júlia foi direcionado ao público infantil e escrito em parceria com sua irmã, Adelina. A obra, intitulada “Contos infantis”, foi publicada em 1886 e é composta por contos não somente em prosa mas também em versos, recheados de metáforas para ensinar às crianças diferentes lições sobre a sociedade. Já em 1887, é lançado o livro “Traços e iluminuras”, primeira coleção de contos da autora.
Em 1892, a obra “A família Medeiros”, antes lançada como folhetins, é publicada em forma de livro, e nela o caráter abolicionista e feminista de Júlia estão presentes. A história gira em torno da relação entre Otávio Medeiros, filho do comendador Medeiros, e sua prima Eva, além de haver um mistério a ser esclarecido. O enredo é ambientado no interior de São Paulo, em um contexto de prevalência de fazendeiros escravocratas, como o comendador Medeiros, e de luta pela liberdade daqueles escravizados.
Uma das obras mais famosas de Júlia Lopes de Almeida foi publicada em 1901 e trata-se do romance “A falência”. O livro retrata a queda de uma família rica ao fim do século XIX, a qual vai da riqueza à pobreza após ir à falência. As personagens femininas da obra marcaram a literatura por se mostrarem autônomas e independentes em meio ao declínio dos personagens masculinos.
Júlia Lopes de Almeida e a relevância de sua obra
O extenso catálogo de Júlia Lopes de Almeida marcou e ainda marca não somente a literatura brasileira mas também a sociedade. A autora, em suas obras, procurou abordar assuntos diversos e relevantes, fazendo um retrato do Brasil de sua época.
Júlia Lopes foi uma das primeiras mulheres a garantir seu lugar em um espaço dominado por homens, e esse pioneirismo representa um aspecto extremamente importante dos escritos da autora: a defesa dos direitos das mulheres. Suas personagens femininas são lembradas por sua independência e pela busca por respeito e educação e representam a própria luta da autora em prol da emancipação da mulher.
Além disso, Júlia utilizou suas páginas para discorrer sobre questões como os conflitos de classes, as transformações da sociedade, a queda da burguesia e a defesa do abolicionismo.
Tanto em suas obras quanto em jornais, a escritora buscou estabelecer sua posição em relação ao regime escravocrata, demonstrando sua preocupação quanto às injustiças sociais pelas quais aqueles marginalizados eram submetidos. Os livros de Júlia retratam as mudanças sociais de sua época e a realidade social em que vivia com sensibilidade e acurácia, trazendo à tona as desigualdades as quais testemunhava.
Curiosidades
- Júlia costumava esconder seus escritos da família. Um dia, ela foi pega escrevendo por uma de suas irmãs, a qual mostrou o trabalho de Júlia ao pai, que acabou por estimulá-la a continuar exercendo a escrita.
- O primeiro livro de Júlia Lopes de Almeida, “Contos infantis”, foi utilizado por mais de vinte anos nas escolas primárias não somente do Rio de Janeiro mas também de todo o Brasil.
- No aniversário de 120 anos da Academia Brasileira de Letras, a instituição homenageou Júlia Lopes de Almeida para destacar sua posição como cofundadora da Academia.
- Embora não tenha sido aceita na ABL, ocupou a cadeira de número 26 na Academia Carioca de Letras em 1926.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias da Fuvest para as edições de 2026 a 2029, além dos autores de cada livro. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
Leituras obrigatórias Fuvest 2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Dom Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Erico Verissimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Confira as obras obrigatórias da UFMG para o Seriado 2025-2027
A primeira edição do Seriado da UFMG contempla a Etapa 1 (2025-2027) do processo seletivo e inclui três obras obrigatórias nas provas. Saiba quais:
- Livro Memórias de Martha, de Julia Lopes de Almeida
- Música Principia, do rapper Emicida (uma das canções do álbum AmarElo)
- Conjunto de autorretratos Pão e circo, do artista Paulo Nazareth.
Foto do post: Divulgação/Arquivo Nacional e Divulgação/Janela Amarela