Se você está se preparando para a Fuvest, já deve saber que as leituras obrigatórias representam partes cruciais da prova, e para além dos textos, conhecer os autores desses livros poderá te ajudar a entender melhor cada produção. Pensando nisso, para enriquecer os seus estudos, preparamos uma biografia de Nísia Floresta, incluindo principais trabalhos e curiosidades. Ela escreveu a obra “Opúsculo humanitário” e “Conselhos à minha filha”, que estão entre as leituras obrigatórias da Fuvest.
Ao final da leitura, confira também a lista completa dos livros selecionados pela USP, que serão cobrados nos vestibulares 2026 a 2029!
Nísia Floresta: vida e obra
Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida pelo seu pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta – ou somente Nísia Floresta -, nasceu em 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, e foi uma educadora, escritora e poeta brasileira. Era filha do português Dionísio Gonçalves Pinto Lisboa e da brasileira Antônia Clara Freire. O pai era um advogado liberalista, o qual incentivou a paixão da filha pelos livros.
Os anos de juventude de Nísia Floresta são pouco conhecidos. Sabe-se que, em 1819, ela e a família viveram em Goiana, Pernambuco. Entre 1822 e 1823, Dionísia se casou com Manuel Alexandre Seabra de Melo, em um casamento forçado. A família, no entanto, regressou ao Rio Grande do Norte mais tarde, e Nísia, então, deixou seu primeiro marido, mas perseguições políticas à família fizeram com que novamente deixassem o estado. De volta em Goiana, a jovem Dionísia conhece Manuel Augusto, pai de seus dois filhos e seu segundo marido, o qual veio a falecer prematuramente em 1833, aos 25 anos.
Em 1831, o jornal Espelho das Brasileiras publicou uma série de artigos redigidos por Nísia, nos quais ela dissertava sobre a condição das mulheres no século XIX. Seu primeiro livro, “Direito das mulheres e injustiça dos homens”, foi publicado um ano depois, sendo uma tradução do livro “Woman not inferior to man”, divulgado por um(a) autor(a) ainda hoje desconhecido(a), de pseudônimo Sophia. Após o falecimento de Manuel Augusto, Nísia Floresta dá início à sua carreira no campo da educação, no qual teve grande influência e relevância, principalmente no que tange à educação feminina.
Colégio Augusto
Em 1838, no dia 15 de fevereiro, no Rio de Janeiro, Nísia inaugurou sua instituição de ensino, denominada Colégio Augusto, uma escola para meninas. Nela, eram ministradas aulas sobre várias disciplinas, como línguas estrangeiras, matemática, português e história, algo incomum, tendo em vista que eram direcionadas ao sexo feminino. À época, o que se valorizava em relação à educação feminina era o conteúdo estritamente doméstico, porém Nísia inovou e apresentou novos métodos de ensino, devido aos quais sofreu críticas de rivais e discursos difamatórios.
Não há, todavia, muitos registros sobre o tempo de Nísia Floresta no Rio de Janeiro. Em 1849, ela e os filhos se mudaram para a França, onde encabeçou publicações em francês e em italiano, dissertando também sobre questões educacionais, entre outros assuntos. Da França, Nísia Floresta encaminhava ao Brasil artigos para serem publicados nos jornais cariocas. O livro “Opúsculo humanitário”, reconhecido por ser uma grande tese em defesa da educação feminina, foi, em um primeiro momento, publicado em formato de folhetins nos jornais Diário do Rio de Janeiro e O Liberal entre os anos de 1852 e 1853.
Anos finais de sua vida
Nísia Floresta retornou ao Brasil em alguns períodos depois de sua mudança para a Europa. Em uma dessas ocasiões, em 1855, ela foi voluntária na Enfermaria de Nossa Senhora da Conceição, pois havia ocorrido uma epidemia de cólera no Rio de Janeiro. De 1872 a 1875, Nísia permaneceu no Brasil, mas não estabeleceu residência fixa no país. Retornou à Europa em 1875 e, no ano de 1885, faleceu na França, acometida por uma pneumonia. Nísia Floresta foi um marco para a educação feminina e é considerada uma pioneira na discussão sobre o feminismo no Brasil.
Principais obras
O primeiro livro de Nísia Floresta constitui uma tradução da obra “Woman not inferior to man”, de Sophia. Publicada em 1832, a tradução trazia ao Brasil a mensagem de igualdade entre os sexos da obra original, demonstrando o pioneirismo de Nísia Floresta em falar sobre a emancipação feminina no século XIX, em um contexto em que a voz das mulheres era silenciada.
‘Conselhos à minha filha’
Seu primeiro livro autoral, por sua vez, foi publicado em 1842 e intitulado “Conselhos à minha filha”. A obra é redigida seguindo a estrutura de uma carta destinada à filha, Lívia, e nele Nísia a aconselha sobre o melhor caminho a seguir em sua vida, tendo em vista o contexto histórico em que viviam. A autora reforça o quão essencial é exercer virtudes morais e cristãs e se dedicar à educação. O livro “Conselhos à minha filha” é reconhecido por ser a primeira obra de autoria feminina publicada no Brasil.
Em 1847, Nísia publicou “Fany ou o modelo das donzelas”, livro inicialmente produzido para as estudantes do Colégio Augusto. Nele, acompanhamos a história da protagonista Fany, jovem de uma família rica do Rio Grande do Sul que vivencia e sofre as consequências da Revolução Farroupilha ocorrida no estado. “Daciz ou a jovem completa” também teve fins pedagógicos e foi um discurso publicado no mesmo ano, assim como o “Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta”.
Nísia Floresta, também poeta, publicou em 1849 a obra “A lágrima de um caeté”, um longo poema de 39 páginas inserido no movimento romântico, o qual versava sobre a Revolução Praieira e a identidade brasileira. Já em 1850, o romance “Dedicação a uma amiga” teve sua estreia. Considerado inacabado, à época dois volumes foram lançados, apesar de quatro terem sido previstos, e o romance trabalha temas ligados às lutas da autora registradas em várias de suas obras, como as questões sociais e políticas do século XIX, bem como as desigualdades raciais que se alastraram na sociedade.
‘Opúsculo humanitário’
O livro “Opúsculo humanitário” constitui uma tese em defesa à educação das mulheres no Brasil oitocentista. Foi publicado em formato de folhetins nos jornais Diário do Rio de Janeiro e O Liberal entre os anos de 1852 e 1853, para posteriormente ser organizado em um livro, como uma coletânea de 62 artigos, em 1989, por Peggy Sharpe-Valadares.
Nísia Floresta e a relevância de sua obra
Nísia Floresta Brasileira Augusta é considerada a primeira feminista do Brasil. As obras da autora marcam esse aspecto de Nísia, que defendia, em um Brasil oitocentista onde os direitos das mulheres não tinham vez, a educação feminina, a independência da mulher e a sua inclusão nos espaços sociais. A autora foi uma das primeiras educadoras brasileiras, e seus escritos revolucionaram o modelo educacional vigente, tendo intensa relevância cultural e histórica.
Além disso, seus trabalhos revelam sua luta pelos direitos de outros grupos marginalizados. Nísia tratou das desigualdades sociais as quais testemunhava e discutiu questões relacionadas aos povos indígenas à época. Sua obra também registra tanto os horrores da escravidão e do racismo quanto a sua defesa à abolição da escravatura.
A coletânea de Nísia Floresta traduz a preocupação da escritora com seu país de origem e sua ânsia em proporcionar caminhos para que o Brasil alcançasse um estado de justiça e igualdade. Ela compõe, ainda hoje, uma referência não somente na luta pela igualdade de gênero mas também na valorização da educação.
Curiosidades
- O pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta possui a seguinte origem: Nísia representa Dionísia; Floresta retoma seu lugar de nascimento, o Sítio Floresta, no estado do Rio Grande do Norte; Brasileira refere-se à nacionalidade da autora; e Augusta honra a memória de Manuel Augusto de Faria Rocha, seu segundo marido.
- O verdadeiro nome de Nísia Floresta era considerado incerto. Havia dúvida quanto Dionísia Pinto Lisboa e Dionísia Gonçalves Pinto, mas o segundo nome é aquele registrado no Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, assim como em determinados catálogos bibliográficos.
- Nísia Floresta faleceu fora do Brasil em 1885, e somente anos depois seus restos mortais retornaram ao seu país de origem.
- Em 12 de outubro de 1909, foi estruturado um monumento em homenagem à Nísia Floresta no Sítio Floresta, onde nasceu, o qual recebeu os restos mortais da escritora em 1954.
- A cidade onde nasceu a autora, Papari, foi rebatizada em sua homenagem. Hoje, o nome do município potiguar é Nísia Floresta, porém muitos de seus habitantes desconhecem a escritora, devido à dificuldade de acesso a seus escritos.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias da Fuvest para as edições de 2026 a 2029, além dos autores de cada livro. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
Leituras obrigatórias Fuvest 2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
Leituras obrigatórias Fuvest 2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Dom Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Erico Verissimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
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