A Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) atualizou, no final do ano de 2023, a lista de leituras obrigatórias para os futuros vestibulares da USP (Universidade de São Paulo). Foram listadas as obras que serão abordadas nas provas de 2025 a 2029. Entre elas, está João Miguel, da escritora Rachel de Queiroz, que será cobrada no vestibular para entrada na USP em 2028.
É essencial que os candidatos procurem ler, conhecer e estudar os livros com antecedência. Assim, para te ajudar na sua preparação para a prova, compilamos um resumo completo sobre o livro.
Resumo do livro ‘João Miguel’
Com uma narrativa permeada pela marginalização, a prisão é retratada de forma a expor a psique da protagonista em uma discussão sobre a liberdade, a consciência e a desigualdade social.
Um dos principais temas abordados na obra é a luta pela sobrevivência, arrependimento e o cárcere. No livro, um homem simples, em um ato de impulsividade, comete um homicídio e é condenado por isso. A privação da liberdade, no entanto, parece ir além da prisão em si, transgredindo para a questão da desigualdade social e dignidade humana.
Enredo
A história retrata, majoritariamente através da terceira pessoa, os acontecimentos na vida de João Miguel, um sertanejo e trabalhador comum, não idealizado para qualquer aspecto moral e essencialmente impulsivo.
Em um pagode, o protagonista se embriaga muito e, no que aparenta ser por motivações fúteis, mata outro homem em uma briga de bar. Isso resultou em sua prisão pelo homicídio e é nesse ambiente que a maior parte do livro será retratado.
Assim, o enredo gira em torno da análise dos sentimentos das personagens a partir do sistema carcerário, as condições humanas, a percepção sobre o arrependimento pelas consequências dos crimes e a questão da liberdade.
O uso de detalhamento por adjetivos e a presença do discurso indireto livre contribuem para a retratação da psique da personagem nessa obra.
Como a Fuvest pode cobrar o livro?
Principalmente na segunda fase, a Fuvest costuma requisitar como as relações socioculturais são retratadas na obra. No caso de “João Miguel”, a questão da condição do cárcere merece ser olhada com mais atenção pela questão da liberdade.
“E então João Miguel sentia, com um remorso, a vergonha de sua indiferença.
Quer dizer que a gente mata um homem, vira criminoso – criminoso! – e não fica diferente, sente a cabeça no mesmo lugar, fica com o mesmo coração?
Quando, antes, pensava que, se talvez um dia chegasse a se desgraçar, a matar um vivente, haveria de ficar toda a vida com o remorso, com a lembrança do defunto, do sangue, no sentido. E estava ali, se sentindo o João Miguel de ontem e de sempre…” (QUEIROZ, 1978, p. 9 e 10).
É visto, nesse trecho, como a noção sobre o “criminoso” é ressignificada gradualmente na concepção do próprio João Miguel, o que realça a discussão sobre a justiça e a lógica de desumanização do sistema carcerário.
Determinismo
Além disso, também pode-se observar como a liberdade é controlada a partir do determinismo movido pelas desigualdades sociais.
“Tudo pelo amor de Deus cansa, dona… E, quando a criatura pensa em outra coisa que não seja a barriga, não se conforma com essa vida de boi de canga, ganhando só para o triste bocado… E a gente então bebe, porque é a coisa melhor que pode fazer. Ao menos, quando está bêbado, não pensa em nada…” (QUEIROZ, 1978, p. 88).
A figura do trabalhador é referenciada aqui como alguém que trabalha porque precisa se alimentar, por sobrevivência, e, por isso, submete-se às condições exploratórias de trabalho. Como uma forma de fuga, a bebida é apreciada, pois ao menos distrai o trabalhador de sua condição.
Ainda pode-se observar como essa liberdade é cerceada às mulheres, como pelas personagens Filló e Maria Elói, que cuida de seus filhos na cadeia enquanto presa. É mencionado em algumas falas que a mulher também luta para sobreviver a partir ou do casamento ou da prostituição, mas sempre em dependência dos homens.
Sobre a autora
Nascida em Fortaleza, Brasil, Rachel de Queiroz (1910-2003) foi uma escritora de língua portuguesa cujas obras retratam a vida no sertão nordestino e as complexidades sociais do Brasil. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras.
Rachel teve participação ativa na literatura brasileira desde jovem e, em 1930, publicou seu livro mais famoso “O Quinze”, que aborda a grande seca de 1915. Em 1993, foi a primeira mulher a receber o Prêmio Camões, a mais prestigiosa honraria conferida a escritores lusófonos.
Rachel de Queiroz é conhecida por sua escrita realista e crítica, que explora temas sociais e culturais do Brasil, especialmente em relação ao regionalismo nordestino.
Confira as leituras obrigatórias da Fuvest para os vestibulares de 2026 a 2029
Agora, saiba as leituras obrigatórias formuladas pela Fuvest para as edições de 2026 a 2029. Os títulos em negrito são referentes às obras inéditas em relação ao ano anterior do vestibular:
2026
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Júlia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Érico Veríssimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira
Foto do post: Divulgação/Editora José Olympio